Diário de Notícias

Sporting que se cuide. Grandes já perderam 13 finais com a classe média

Leões enfrentam o Desportivo das Aves nesta tarde. Juanico e Meyong recordam jogos em que os mais pequenos foram heróis no Jamor

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ANDRÉ CRUZ MARTINS Hoje discute-se a final da Taça de Portugal, o segundo troféu mais importante do futebol português. Os leões, que têm 16 vitórias em 27 finais (podem ultrapassa­r esta tarde o FC Porto), são os favoritos naquela que será a 51.ª final entre um dos grandes e um clube pequeno. A vantagem do Benfica, do FC Porto e do Sporting tem sido evidente, mas não tanto assim, pois ganharam 37 vezes e foram derrotados em 13 ocasiões.

Os heróis foram Boavista (em quatro ocasiões), V. Setúbal, Belenenses e Académica (duas), Leixões,V. Guimarães e Sp. Braga (uma vez). Sporting e FC Porto foram surpreendi­dos três vezes e o Benfica seis. Os resultados inesperado­s começaram logo na primeira edição, em 1938-39, quando a Académica bateu o Benfica por 4-3 nas Salésias. Foi preciso esperar 21 anos para um pequeno ganhar a um grande, embora em duas temporadas nesse intervalo de tempo não tenha havido final: em 1959-60, já no Jamor, o Belenenses derrotou o Sporting por 2-1, repetindo o feito em 1988-89 diante do Benfica.

O caso do Boavista é notável, não só por ser o clube com mais troféus frente aos grandes mas também pelo facto de só ter perdido uma final (2-5 diante do Benfica, em 1992/93). Destaque para o Leixões, que em 1960-61 não se intimidou por estar a jogar nas Antas e derrotou o FC Porto por 2-0. Já as duas vitórias do V. Setúbal frente a grandes foram com o Benfica: 3-1 em 1964-1965 e 2-1 em 2004-05.

Nos anos mais recentes, houve festa minhota: o V. Guimarães ultrapasso­u o Benfica por 2-1 na final de 2011-12, em que as águias perderam o campeonato, a Liga Europa e a Taça de Portugal. Há dois anos foi o Sp. Braga a bater o FC Porto nos penáltis após 2-2.

Já em 2011-12 bastou um golo de Marinho aos quatro minutos para a Académica derrotar o Sporting de Sá Pinto, curiosamen­te com a contribuiç­ão de Cédric e Adrien, que estavam cedidos pelos verdes e brancos. Esta será a décima final consecutiv­a entre um grande e um pequeno, desde que em 2007-08 o Sporting levou a melhor sobre o FC Porto, por 2-0. Com seis vitórias para os maiores clubes e as três surpresas aqui referidas. Juanico decidiu à bomba Na final de 1988-89, o Benfica de Toni tinha acabado de se sagrar campeão nacional, com futebolist­as como Ricardo Gomes, Mozer, Valdo, Diamantino e Magnusson, mas nessa tarde não evitou o triunfo do Belenenses de Marinho Peres. O médio Juanico foi o autor do golo do triunfo na final da Taça, aos 81 minutos, na cobrança de um livre, após Chico Faria ter colocado os azuis em vantagem aos 25’ e de Vata ter empatado (73’).

“Como me poderia esquecer? Não foi o meu melhor golo, mas foi um grande golo e o mais mediático. Vai fazer 29 anos a 28 de maio... o meu golo foi o corolário do excelente jogo que o Belenenses tinha na altura”, referiu Juanico ao DN, afastando a hipótese de o Benfica ter sido indolente, pensando que com maior ou menor esforço acabaria por chegar à vitória: “O que se passou, simplesmen­te, foi que não conseguira­m fazer face à nossa capacidade de superação”.

O médio português, na altura com 30 anos, destaca a importânci­a de Marinho Peres na vitória. “Não há palavras que consigam ex-

BELENENSES 2-1 BENFICA Em cima, a final de 2005 quando o V. Setúbal de José Rachão levou de vencida o Benfica de Trapattoni, campeão nacional. Em baixo, o Belenenses de Marinho Peres derrotou o também campeão Benfica de Toni pressar esse homem extraordin­ário que também era um treinador fabuloso. A equipa foi fantástica, interpreta­ndo na perfeição o que nos tinha sido pedido pelo treinador.” Juanico lembra-se de que “na semana que antecedeu o jogo o Marinho Peres equipou-se de calções e ligaduras e entrou sempre nos meinhos, enquanto provocava os jogadores na brincadeir­a dizendo que jogava melhor”. 29 anos depois, as últimas palavras de Marinho Peres ecoam nos ouvidos de Juanico: “Cara, são onze contra onze e vamos lutar dentro de campo. Está tudo em aberto.”

Juanico, que hoje trabalha numa loja de cigarros eletrónico­s em Guimarães, estava obviamente longe de imaginar que essa seria a última Taça de Portugal ganha pelo Belenenses até aos dias de hoje. “Na época seguinte voltámos a ter uma oportunida­de de ouro, pois chegámos às meias-finais mas fomos eliminados pelo Farense, que estava na II Divisão.

Meyong foi outro herói de um pequeno na final da Taça de Portugal, ao apontar o segundo golo no triunfo do V. Setúbal sobre o Benfica por 2-1, na época de 2004-05, curiosamen­te depois de os encarnados também se terem sagrado campeões nacionais, sob orientação de Giovanni Trapattoni. Do plantel das águias faziam parte futebolist­as como Simão Sabrosa, Nuno Gomes, Petit e Luisão. “Juntamente com a minha estreia pela

V. SETÚBAL 2-1 BENFICA seleção dos Camarões, esse foi o melhor momento da minha carreira, pois foi um golo que significou um troféu muito importante para o V. Setúbal. E ainda por cima foi contra o Benfica, que todas as pessoas davam como grande favorito”, refere.

O antigo avançado camaronês confessa que foi nesse dia que se deu conta “da verdadeira dimensão do V. Setúbal, não só pela quantidade enorme de adeptos que levou ao Estádio Nacional, mas também pela festa que depois foi feita na Praça do Bocage, em que quase parecia estar toda a cidade”.

Meyong recorda-se perfeitame­nte de como foi o golo. “Houve um remate, o Moreira defendeu e eu surgi rápido a fazer a recarga. Fiquei à coca, pois acreditava sempre que os guarda-redes não seguravam a bola. Consegui muitos golos desta forma”, conta, reconhecen­do que o Benfica “encarou o jogo com alguma apatia, pensando que se calhar ia ser fácil ganhar, mas não estava à espera de um V. Setúbal tão bom e da ajuda dos adeptos vitorianos nas bancadas, que foi impression­ante”.

Tal como Juanico, defende que “este é aquele jogo em que todos os futebolist­as querem participar, pois é a grande festa do futebol português e todas as pessoas gostam de festa”.

Tendo em conta este exemplo do V. Setúbal, Meyong deixa o aviso ao Sporting. “Vamos ver como os jogadores ultrapassa­m o que lhes aconteceu nos últimos dias. E este Aves faz-me lembrar um pouco a nossa equipa naquela final com o Benfica. Defendem bem, de forma agressiva e sabem jogar bom futebol. Não vai ser fácil para o Sporting e vou querer ver o jogo, pois acho que vai ser um bom espetáculo”, antevê.

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