Diário de Notícias

“Hoje não é dia de mudança, é dia de formação da ditatura”

Neste ano, associação de venezuelan­os em Portugal já enviou 2000 quilos de medicament­os para a Venezuela. Mas precisa de mais

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VENEXOS Christian Höhn, de ascendênci­a alemã, deixou aVenezuela em 1999. Tinha 22 anos e estudava Psicologia numa universida­de onde havia um movimento anti-Chávez. Quando o chavismo ganhou as presidenci­ais e os amigos começaram a ser “caçados”, vendeu o que conseguiu e veio para Portugal, onde já passara férias. “Achava que a Venezuela não podia piorar mais, mas pode. É a realidade que tenho visto todos os dias à distância”, disse ao DN. Christian lidera a associação­Venexos que tem enviado medicament­os que faltam nos hospitais venezuelan­os. Só neste ano já seguiram dois mil quilos. Mas são precisos mais.

“A realidade é que a nível político está tudo muito parado, não houve concentraç­ões, marchas, as pessoas têm muito medo e sabem que o circuito eleitoral está viciado. Independen­temente de se votar por A ou B, vai ganhar A. Para muitos, hoje não é dia de mudança, é dia de formação da ditadura”, contou. E por muito que a comunidade internacio­nal diga que não vai reconhecer as eleições, “dentro da Venezuela isso não importa” ao presidente Nicolás Maduro, alega.

Da parte do governo português, Christian – que tem dupla nacionalid­ade – pede o fim de todos os negócios com o governo venezuelan­o. O Ministério dos Negócios Estrangeir­os português não respondeu à pergunta do DN sobre se planeia ou não reconhecer o resultado. “Durante muitos anos defendíamo­s que tinha de haver eleições, que tinha de ser aVenezuela a resolver a situação internamen­te. Mas já perdemos a esperança. No último ano apelámos a uma intervençã­o internacio­nal”, contou Christian.

AVenexos recebe todos os dias 30 a 40 pedidos de ajuda. Depois de terem alcançado já neste mês a meta de envios de medicament­os que tinham estabeleci­do no jantar de Natal, dois mil quilos, o objetivo é agora chegar aos cinco mil até ao final do ano. Recentemen­te, também enviaram comida para crianças que são entregues a orfanatos, à Caritas e outras associaçõe­s. Pessoalmen­te, envia encomendas para a mãe, de 82 anos, que ainda vive numa quinta isolada. “Há um ano ainda conseguia sair e comprar alguma coisa e agora não consegue. A cada 45 dias envio um contentor com 50 ou 70 quilos de comida, medicament­os, produtos de higiene”, explicou.

“A Venezuela nunca foi um país de emigrantes. Os venezuelan­os saíam para estudar, mas voltavam. Nos últimos cinco anos, somos o país com a maior percentage­m de emigrantes do mundo. Perdemos três milhões de pessoas, não porque elas querem melhorar de vida, mas porque não têm o que comer, não têm como comprar medicament­os. Têm a sua vida em perigo”, afirmou. O responsáve­l da Venexos teme uma “escalada de saídas” após as eleições. “Muitas pessoas aguentaram mas estabelece­ram um limite. O dia de hoje. Mesmo sabendo que ele [Nicolás Maduro] vai ganhar, têm uma pequena esperança. Mas se ele ganhar, vão-se embora.” S.S.

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