Diário de Notícias

Jesús Cimarro “Quero ter uma coprodução luso-espanhola no Festival de Mérida”

Teatro. O diretor do Festival de Teatro Clássico de Mérida explica ao DN os pontos fortes do programa deste ano, com as peças a sucederem-se num cenário com dois mil anos de 29 de junho a 26 de agosto

- LEONÍDIO PAULO FERREIRA

Diretor do Festival Internacio­nal de Teatro Clássico de Mérida desde 2012 (e desde o início deste ano presidente da Academia das Artes Cénicas de Espanha), Jesús Cimarro esteve em Lisboa para promover o evento que ocorre na capital da Extremadur­a espanhola e desafiar o público português a marcar mais presença. Prova de que se trata de um festival de grande peso, ao lado de Cimarro estavam o ministro espanhol dos Negócios Estrangeir­os, Alfonso Dastis, e o presidente do governo da Extremadur­a, Guillermo Fernández Vara. Mérida, que foi capital da província romana da Lusitânia, tem um conjunto monumental único no espaço ibérico e também o melhor museu dedicado ao Império Romano neste extremo ocidental da Europa. Um pouco mais a sul, perto da atual Sevilha, na antiga província da Bética, nasceram, aliás, os imperadore­s Trajano e Adriano. Ora, é toda esta memória da Antiguidad­e Clássica que o Festival de Teatro de Mérida recupera todos os verões desde há mais de meio século. O Festival de Teatro Clássico de Mérida vai na 64.ª edição. Qual é o ponto forte deste verão? Como diretor, o que posso dizer é que neste ano, como já é habitual, apresentam­os vários pontos fortes. Há comédias, há tragédias e há peças que nunca antes foram apresentad­as em Mérida, como Ben-Hur, Nero, Filoctetes ou Comédia do Fantasma. São talvez estes a destacar de um cartaz muito rico. O segredo do vosso sucesso é juntar peças clássicas gregas e romanas com peças contemporâ­neas inspiradas na Antiguidad­e Clássica. Dos gregos que mais poderemos ver, além do já referido Filoctetes, de Sófocles? Haverá, por exemplo, também Hipólito, de Eurípides. E dos contemporâ­neos, além das chamativas Ben-Hur e Nero? Teremos Electra, com dança e flamenco e acompanhad­a pela Orquestra da Extremadur­a, e também Fedra. São vários os textos baseados em romances ou escritos propositad­amente para este festival, como já é tradição. Creio que o festival ganha muito com estes textos de autores atuais que nos oferecem uma visão dos clássicos muito contemporâ­nea. Esses autores contemporâ­neos con- tinuam a ser só espanhóis ou já houve propostas de um português? Bem, pelo menos desde que me tornei diretor creio que têm sido todos espanhóis. Mas nesta semana, no Teatro Romano de Lisboa, presenciám­os Não Nasci para Odiar, mas para Amar, produzida e dirigida pelo ator e encenador português Tiago Vieira. E teremos hipótese de ver esta peça a partir de 27 de julho em Mérida, no Templo de Diana. Será a primeira vez nestes meus sete anos como diretor que haverá uma peça portuguesa em Mérida. Mas no ano passado já tivemos um concerto da fadista Katia Guerreiro no festival e que foi um êxito. E gostaria muito de patrocinar uma coprodução teatral com artistas espanhóis e portuguese­s em Mérida. Estamos a trabalhar para ver se na próxima edição de 2019 poderemos cumprir esse objetivo. O público português já descobriu o Festival de Teatro de Mérida? Sim, sim. Está a crescer. Temos dados seguros dos espectador­es que compram com cartão de crédito. Mas sabemos também que há muito público português que vem até Mérida e compra diretament­e na bilheteira, e aí não se consegue quantifica­r. Mas notamos que são cada vez mais, a cada ano, os espectador­es portuguese­s no festival. Só para esclarecer as pessoas que nunca foram a Mérida ao festival : como sempre, o início dos espetáculo­s está marcado para as onze da noite, quando finalmente escurece e também quando o calor do verão extremenho se torna suportável? Claro, certamente. É às onze da noite porque tem de se fazer de noite. O Teatro Romano de Mérida é ao ar livre e estas representa­ções, naquele ambiente, têm mesmo de ser feitas de noite. Falou de várias peças contemporâ­neas. Ben-Hur, famoso romance e também filme hiperoscar­izado, é a primeira vez que se representa neste festival. Com alguma surpresa? Sim, é novidade, tal como Nero, que também nunca se represento­u. São títulos muito apelativos para os espectador­es e tenho a certeza de que gostarão. Este Ben-Hur é da companhia Yllana e é uma abordagem cheia de humor. Continua a apostar em figuras famosas da TV espanhola para o palco? Tento combinar os atores de toda a vida, de prestígio, e os atores da TV e do cinema. Não podemos esquecer que o Teatro Romano de Mérida, com dois mil anos, tem uma capacidade de 3100 assentos e, logicament­e, as caras conhecidas ajudam muito a que o público venha ver as peças de teatro.

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Teatro Romano de Mérida data de há mais de dois mil anos e foi construído nos tempos do imperador Augusto. Tem hoje cerca de três mil lugares
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