“Há resistência da classe médica”
O serviço de obstetrícia do Hospital da Póvoa de Varzim é um bom exemplo? É a prova viva do que o que digo no meu livro Nascer Saudável [lançado em 2017] é perfeitamente executável. Segue os melhores fundamentos científicos e as boas práticas para o parto, há muito recomendadas pela Organização Mundial da Saúde. O que distingue este serviço? São as práticas, com o plano de parto. A forma como é feita a monitorização – na Póvoa é intermitente, não há toques vaginais sem necessidade. Também a canalização da veia que não é feita, nem tem de ser. Noutros, se a mulher diz que não quer soro, dizem que está em risco. Não há restrição de movimentos e permitem acompanhantes. Isto é um atraso cá, em países como Reino Unido, Finlândia ou Noruega até os filhos podem ir. Já esteve em partos na Póvoa? Estive em dois partos como doula. Num dos casos permitiram a presença do pai e duas doulas. Em mais nenhum hospital isto acontece. O nível de respeito com o casal é muito alto. Tem que ver com as pessoas que lá trabalham, com a cultura intrínseca. Nota-se o espírito de equipa, transversal das enfermeiras aos obstetras. Senti uma harmonia grande e um respeito pelos limites de cada um. Fala-se em humanização... Não gosto da palavra humanização. É mais o respeito. Desde 2014 que está definido por lei que há o direito a acompanhante. Isso não é respeitado na maioria dos hospitais. A classe médica resiste a essas práticas? Julgo que há uma usurpação de poder por parte da classe dos obstetras. Estes médicos estão fora das boas práticas há mais de 30 anos, nem as recomendações da OMS seguem. Há uma resistência à mudança, não deixam espaço às parteiras. O projeto de lei do PS é um passo em frente? Duvido. É começar a fazer casa pelo telhado. Dificilmente irá ser cumprido pelos médicos. Já não o fazem em relação ao acompanhamento. Não há quem fiscalize.