Salário mínimo nem dá para comprar três latas de atum
ECONOMIA Fundo Monetário Internacional estima que a inflação chegue aos 16 000% no final deste ano. Maduro culpa “guerra económica”
No início de maio, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, aumentou em 95% o salário mínimo para um milhão de bolívares. Foi o terceiro aumento neste ano, o 24.º desde que foi eleito presidente em 2013. Se somarmos ao vale de alimentação, o valor do salário chega aos 2,55 milhões de bolívares. Ao câmbio oficial, isso equivalia então a 37,11 dólares (menos de 32 euros), mas no mercado negro era de apenas 3,6 dólares (três euros).
A BBC fez as contas, com base nos preços num supermercado de um bairro de classe média em Caracas, e concluiu que esse valor nem dá para comprar três latas de atum – cada uma, de 140 gramas, custava 1,1 milhões de bolívares. Também compra menos de dois quilos de frango, 910 gramas de queijo, 3,75 quilos de batatas ou 7,5 rolos de papel higiénico. Os preços eram do início do mês. Mas, por causa da inflação, que o Fundo Monetário Internacional estima possa chegar aos 16 000% no final do ano, o valor pode hoje nem dar para comprar uma dessas latas de atum.
Esta é a primeira vez que existe hiperinflação num país petrolífero – a Venezuela tem as maiores reservas de petróleo a nível mundial. Mas o país tem enfrentado uma queda na produção petrolífera (de 2400 barris por dia em 2016 para 1500), o que implica menos dinheiro disponível para o governo, dependente das exportações de ouro negro. O governo enfrenta ainda o risco de um default da dívida, tendo vindo a fazer o que alguns consideram pagamentos seletivos. A acrescentar aos problemas, fala-se num colapso estrutural dos serviços públicos.
Maduro acusa oposição e EUA de empreenderem uma “guerra económica” contra o país. Já Washington acusa o presidente de lucrar com o narcotráfico e já impôs sanções a vários membros do governo. O presidente prometeu na campanha “uma revolução económica dentro da revolução”, dar impulso à produção nacional e “proteger” o povo com os programas de assistência social. O seu principal adversário, Henri Falcón, quer dolarizar a economia para equilibrar salários e combater a hiperinflação. E pedir ajuda ao Banco Mundial e ao FMI.