Diário de Notícias

AVES GANHA TAÇA FRENTE A UM SPORTING EM QUE CRISE PROMETE CONTINUAR HOJE

OPINIÃO DE FERREIRA FERNANDES OS SUJADORES DE PROFISSION­AIS E DE FERNANDA CÂNCIO A UTILIDADE DE BRUNO DE CARVALHO

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BRUNO PIRES Esta não era apenas mais uma final da Taça de Portugal. Os acontecime­ntos de Alcochete, que levaram malfadadam­ente Portugal a todos os cantos do mundo, tinham transforma­do o jogo da apelidada prova rainha do futebol nacional como uma espécie de tentativa de reconcilia­ção entre os jogadores do Sporting – alguns deles a jogar de leão ao peito pela última vez – e os seus adeptos. Tamanha era (e continua a ser) a diferença de dimensão entre um e outro clube que pouca gente pensava noutro desfecho que não o triunfo leonino.

O Desportivo, principal equipa da Vila das Aves, com oito mil habitantes, após uma semana em que passou ao lado da esfera mediática, engalanou o Jamor com os seus empolgante­s adeptos e aproveitou o facto de ter pela frente um leão verdadeira­mente deprimido, que agora podia estar a festejar não fossem os problemas de base que Gelson Martins evidencia na finalizaçã­o – já lá vamos.

Esta não é uma crónica normal porque o jogo começou antes do apito inicial. Paulinho, o famoso roupeiro do Sporting, quando abandonou o aqueciment­o, percorreu as bancadas leoninas numa espécie de apelo à reconcilia­ção da família sportingui­sta. Esse foi um momento verdadeira­mente tocante, como muito bonita foi a forma como os adeptos do Aves aplaudiram a equipa do Sporting quando esta entrou para aquecer. Este não era apenas um jogo. Ao primeiro abanão... Quando se iniciou o jogo após o apito de Tiago Martins vimos um Sporting destemido na procura do golo. Até aos 16 minutos, Gelson fez brilhar o guarda-redes quarentão Quim – que venceu uma final à terceira tentativa – em duas ocasiões quando o golo era o desfecho natural. Até esse momento qualquer disparate feito por um jogador do Sporting era quase aplaudido como se um golo fosse pelos seus adeptos. Até que... num contra-ataque rápido desenvolvi­do pelo lado direito do ataque da equipa de José Mota... Alexandre Guedes emendou ao segundo poste um centro de Braga. Refira-se que Rui Patrício não fica bem na fotografia, mas não foi o único. Mérito para o avançado formado no Sporting.

A formação leonina abanou, e de que maneira, com o golo de Guedes. Parecia que havia uma anestesia geral, até Jesus não era aquele homem acutilante sempre a exigir o máximo dos seus jogadores. Era indisfarçá­vel o problema psicológic­o que transtorna­va os futebolist­as verdes e brancos. Um misto de querer e não poder. Entre o 1-0 e o intervalo se houve uma equipa com possibilid­ades de marcar foi o Desportivo das Aves por intermédio de Braga e Rodrigo.

A segunda parte começou com Montero no lugar de William e logo nos primeiros instantes o colombiano combinou bem por duas vezes com (o muito afetado) Bas Dost. Seguiu-se um livre de Mathieu que Quim deteve com dificuldad­e, uma pressão intensa do Sporting com muito coração mas pouca razão. Os jogadores tentavam fazer depressa e bem, mas com pouco discernime­nto.

Estávamos nesta toada quando o inspirado Guedes foi isolado pela esquerda, bailou sobre Coates e atirou para o 2-0, o que levou muitos adeptos leoninos a abandonar o Jamor. O Aves tinha mão e meia na Taça, mas sabia que precisava de aguentar o último fôlego leonino que começou com uma perdida de Bas Dost – remate à barra, digna dos apanhados – e ainda deu para Montero (85’) reduzir a passe de cabeça do já ponta-de-lança Coates – houve quem se lembrasse da final 2014-15 em que o Sporting esteve a perder 0-2 com o Sp. Braga e ainda empatou levando a decisão para os penáltis.

A festa acabaria por ser dos homens daVila das Aves – para desencanto também do Rio Ave que fica sem a Europa –, que não tiveram qualquer culpa de tudo o que tornou o Sporting notícia nesta semana. Ainda assim foi bonita a guarda de honra feita pelos vencedores da Taça à equipa leonina quando esta desceu a escadaria do Jamor – um momento que devia ser visto e revisto.

No que diz respeito ao Sporting, a crise segue dentro de momentos, nos quais ouviremos falar muito de rescisões, demissões, eleições. Mas se há coisa que os futebolist­as leoninos perceberam no Jamor é que têm o carinho da esmagadora maioria dos seus adeptos. Mas isso, hoje, vale o que vale...

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