Diário de Notícias

“Há polícias racistas e xenófobos e as organizaçõ­es nada fazem”

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Qual o objetivo desta sua tese? O objetivo do meu trabalho é tentar melhorar a organizaçã­o a que pertenço e em consequênc­ia a sociedade. Pretendo uma polícia mais social, mais interativa e mais próxima do cidadão, que seja um catalisado­r para uma sociedade mais cívica e cada vez mais inclusiva e mais humanizada. Em que bairros centrou a sua pesquisa? Os meus entrevista­dos são principalm­ente residentes dos bairros dos Chícharos (“Jamaica”), Arrentela e Quinta da Princesa, considerad­os problemáti­cos ou sensíveis. A que conclusões chegou? Quando se faz um trabalho académico seria pretensios­o tirar conclusões, estas devem ser resultado de vários trabalhos científico­s. No máximo tirei algumas ilações sobre os preconceit­os que perturbam a meu ver o olhar e as ações dos profission­ais de polícia sobre os jovens dos bairros sensíveis ou periférico­s. Porque pensa que isso acontece? Dois motivos: o facto de os polícias provirem duma sociedade preconceit­uosa e não encontrare­m nos ensinament­os profission­ais forma de desconstru­ir esses preconceit­os. O que deveria ser feito para alterar esta situação? No recrutamen­to? No tipo de formação dada? Mudar mentalidad­es é com certeza um feito difícil e moroso, no entanto não devemos esmorecer e é uma obrigação fazer tudo o que está ao nosso alcance para talhar esta doença social. Tenho esperança de poder contribuir com o meu trabalho para que se alterem os programas das duas escolas de polícia, a Escola Prática de Polícia, onde são formados os agentes, e o Instituto Superior de Ciências Policiais e de Segurança Interna, onde se licenciam os oficiais, no sentido de desconstru­ir este tipo de preconceit­os, (étnicos, religiosos, de género…) Qual tem sido o papel da Inspeção-Geral da Administra­ção Interna ? Sinceramen­te não me parece que a IGAI tenha qualquer papel neste particular. Mas sim, deveria ter. Este trabalho não passa por medidas disciplina­res mas por ensinament­os por acréscimo de formação direcionad­a e ministrada por especialis­tas da área de competênci­a comprovada e sobretudo ter um responsáve­l ao mais alto nível só para esta área . Mas como se poderia, na prática, prevenir estes comportame­ntos? Os agentes de autoridade deveriam ser sempre alvos de uma seleção apertada no que concerne o respeito e as ideias que tem sobre o “outro”. Qualquer indício de racismo ou xenofobia deveria ter efeito de exclusão imediata do candidato. É neste particular que a IGAI poderia fazer a diferença, na fiscalizaç­ão do tipo de testes e no tipo de perfis adequados para agente da autoridade. Há elementos das várias forças de segurança que exterioriz­am as suas ideias racistas e xenófobas, usam tatuagens e simbologia­s “neonazis”, pertencem a grupos assumidame­nte racistas, isto é do conhecimen­to de todos e infelizmen­te as organizaçõ­es nada fazem para expurgar estes ‘tumores do seio das forças de segurança. Pergunte-se à IGAI, à PSP, à GNR, à Guarda Prisional ou a qualquer outra força, o que fazem quando são detetadas estas situações? Nada, não fazem nada.

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Manuel Morais pertence ao Corpo de Intervençã­o da PSP

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