Universidades e ecologistas passam Douro a pente fino
Ambiente. Alterações climáticas estão a reduzir caudal do rio “a uma velocidade alarmante”
Até 2027, estima a Agência Portuguesa do Ambiente, o Douro vai perder 14% da sua água. “Se precisássemos de um sinal de alarme, ei-lo”, diz Ana Brasão, ambientalista da GEOTA que está a coordenar a Rede Douro Livre. O projeto é lançado hoje na Casa das Artes, no Porto. Ao longo dos próximos cinco anos, um consórcio de universidades e organizações ambientalistas vai tentar analisar o rio à lupa para perceber como se pode melhorar a gestão dos recursos hídricos no rio e nos seus afluentes. Uma das medidas mais polémicas será a identificação e remoção de barragens e açudes obsoletos.
O Douro é a maior bacia hidrográfica da Península Ibérica. Se por um lado não há outro curso de água onde desaguem tantos afluentes (e afluentes de afluentes), por outro também não há corrente que seja tantas vezes interrompida por obstáculos humanos. “Não nos podemos esquecer de que as barragens são paredes gigantescas e estanques. Impedem a vida de subir o rio e os sedimentos de descê-lo”, diz a ecologista. “Neste momento já temos problemas graves que se estão a adensar com as alterações climáticas. Da foz do Douro à barrinha de Esmoriz temos hoje o pedaço da costa portuguesa com menor areal e que está sujeito a maior erosão.”
Nos últimos meses têm-se repetido os relatos sobre os problemas do Tejo, mas o Douro tem permanecido num certo anonimato – e é isso que os ecologistas dizem ser urgente mudar. Se o rio que desagua em Lisboa está em risco de secar, e muito por culpa dos transvases espanhóis, o que banha o Porto dificilmente se verá sem caudal, mas está tão fragmentado que pode acabar por tornar-se um rio morto. “Criaram-se grandes zonas estanques e agora, além dos peixes não conseguirem subir o curso, há um fenómeno de aquecimento das águas paradas. Isto aumenta o risco de evaporação e retira oxigenação à água. Sem isso, não há vida.”
Em Espanha, que acolhe 80% da bacia do rio, foram nos últimos anos removidos 130 barragens e açudes. “Nós estamos atrasados em relação ao outro lado da fronteira. É essencial compreender o que está obsoleto, mas também os hotspots de biodiversidade que importa conservar. Para que possamos intervir com argumentos científicos.” A Rede Douro Livre é liderada pela GEOTA e tem parcerias com a Liga de Proteção da Natureza, a WWF Portugal, a Rede Inducar, a Wetlands International e International Union for Conservation of Nature. Os trabalhos académicos serão feitos pelas universidades do Porto, Coimbra, Trás-os-Montes e Alto Douro, pelo Politécnico de Bragança e pela Universidade Nova de Lisboa.