Diário de Notícias

Universida­des e ecologista­s passam Douro a pente fino

Ambiente. Alterações climáticas estão a reduzir caudal do rio “a uma velocidade alarmante”

- RICARDO J. RODRIGUES

Até 2027, estima a Agência Portuguesa do Ambiente, o Douro vai perder 14% da sua água. “Se precisásse­mos de um sinal de alarme, ei-lo”, diz Ana Brasão, ambientali­sta da GEOTA que está a coordenar a Rede Douro Livre. O projeto é lançado hoje na Casa das Artes, no Porto. Ao longo dos próximos cinco anos, um consórcio de universida­des e organizaçõ­es ambientali­stas vai tentar analisar o rio à lupa para perceber como se pode melhorar a gestão dos recursos hídricos no rio e nos seus afluentes. Uma das medidas mais polémicas será a identifica­ção e remoção de barragens e açudes obsoletos.

O Douro é a maior bacia hidrográfi­ca da Península Ibérica. Se por um lado não há outro curso de água onde desaguem tantos afluentes (e afluentes de afluentes), por outro também não há corrente que seja tantas vezes interrompi­da por obstáculos humanos. “Não nos podemos esquecer de que as barragens são paredes gigantesca­s e estanques. Impedem a vida de subir o rio e os sedimentos de descê-lo”, diz a ecologista. “Neste momento já temos problemas graves que se estão a adensar com as alterações climáticas. Da foz do Douro à barrinha de Esmoriz temos hoje o pedaço da costa portuguesa com menor areal e que está sujeito a maior erosão.”

Nos últimos meses têm-se repetido os relatos sobre os problemas do Tejo, mas o Douro tem permanecid­o num certo anonimato – e é isso que os ecologista­s dizem ser urgente mudar. Se o rio que desagua em Lisboa está em risco de secar, e muito por culpa dos transvases espanhóis, o que banha o Porto dificilmen­te se verá sem caudal, mas está tão fragmentad­o que pode acabar por tornar-se um rio morto. “Criaram-se grandes zonas estanques e agora, além dos peixes não conseguire­m subir o curso, há um fenómeno de aqueciment­o das águas paradas. Isto aumenta o risco de evaporação e retira oxigenação à água. Sem isso, não há vida.”

Em Espanha, que acolhe 80% da bacia do rio, foram nos últimos anos removidos 130 barragens e açudes. “Nós estamos atrasados em relação ao outro lado da fronteira. É essencial compreende­r o que está obsoleto, mas também os hotspots de biodiversi­dade que importa conservar. Para que possamos intervir com argumentos científico­s.” A Rede Douro Livre é liderada pela GEOTA e tem parcerias com a Liga de Proteção da Natureza, a WWF Portugal, a Rede Inducar, a Wetlands Internatio­nal e Internatio­nal Union for Conservati­on of Nature. Os trabalhos académicos serão feitos pelas universida­des do Porto, Coimbra, Trás-os-Montes e Alto Douro, pelo Politécnic­o de Bragança e pela Universida­de Nova de Lisboa.

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Barragem do Picote, em Miranda do Douro

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