“Chegámos à real geringonça”
A solução de governo é uma oportunidade para fazer reformas ou representa um perigo para a democracia? É difícil avaliar, mas, pelas propostas da campanha eleitoral e do programa de governo entre o 5 Estrelas e a Liga, posso verificar que não há reformas estruturais. Vão voltar atrás na reforma das pensões, é uma reforma estrutural negativa. E há uma reforma dos impostos drástica, ou seja, a adoção de um dual tax, seja para as empresas seja para os indivíduos. A instauração de uma reforma desta natureza implicaria um défice gigantesco imediatamente. É uma reforma fiscal muito perigosa do ponto de vista da sustentabilidade das finanças públicas. E ainda há a proposta de um rendimento mínimo ou de um salário mínimo. Não se percebe muito bem, ainda é vago. As duas almas que estão a unir-se são completamente diferentes. A Liga tem noção de governo porque está à frente das regiões mais ricas do país e mais ligada ao tecido empresarial do norte; o 5 Estrelas tem um eleitorado do sul. O dual tax e o rendimento de cidadania são medidas paradoxais. Chegámos à real geringonça. Os portugueses tentaram e os italianos conseguiram [risos]. É pelo programa de governo ou é pela ameaça de saída do euro que os juros da dívida sobem? Os mercados reagem à incerteza e quando esta aumenta o risco aumenta. É natural. Temos de encontrar compromissos razoáveis para a Europa viver com forças deste tipo, pelo menos durante um tempo. Não acredita que este governo dure uma legislatura? Agora parece que vai ser muito difícil. Mas nunca se sabe. Até porque o nome proposto para primeiro-ministro é desconhecido. Mas isso não pode jogar a seu favor? Não sei. Há a interpretação de que pode ser um compromisso entre forças muito distantes: é ter uma pessoa técnica para aplicar o diretório dos dois partidos e esvaziar o poder do primeiro-ministro.