Quatro para dançar o tango
Donald Trump e Moo Jae-in prepararam-se para um encontro-chave hoje, naquela que será a quarta cimeira entre os dois desde que tomaram posse como chefes do Estado. Trump e Moon são aquilo que em inglês se designa por strange bedfellows. O presidente sul-coreano fez carreira como advogado de defesa dos direitos humanos, tendo sido consistentementeuma “pomba” e uma voz da moderação oriunda do centro-esquerda. Está assim, em muitos aspetos, nos antípodas de Trump. Contudo, os caminhos destes dois homens cruzam-se numa conjuntura histórica extraordinária que pode finalmente abrir caminho para a paz e a desnuclearização da península coreana.T udo estava encarrilado após a cimeira sem precedentes entre Moon e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, no final de abril. Até que, na semana passada, Pyongyang anunciou unilateralmente o adiamento das conversações com o sul, em virtude de exercícios militares em marcha entre Seul e Washington. Em cima da mesa está também a ameaça de cancelamento da cimeira prevista para 12 de junho em Singapura entre Kim e Trump. Este movimento não é surpreendente, uma vez que a Coreia do Norte recorre com alguma frequência a expedientes deste género por taticismo negocial. Não podemos esquecer-nos de que Pyongyang tem mantido na mão o controlo remoto de muito do processo, por muito que custe a Washington admiti-lo. Mas esta dança não é nem nunca poderá ser apenas a dois ou a três. Pequim faz questão de ser voz ativa e determinante neste processo por razões óbvias. Não foi por acaso que Kim esteve na China para uma segunda “visita surpresa”, no dia 8 deste mês, em que conversou com Xi Jinping “numa atmosfera cordial e amigável”. Além do mais, sugerir que o modelo de “desnuclearização” da Líbiaéa via a seguir, como fez o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, no mês passado, é um insulto à inteligência de Kim.