Diário de Notícias

Lei do Cinema une esquerda e direita contra governo

Parlamento. Depois de PCP, BE e CDS, agora é o PSD que vai requerer a apreciação da Lei do Cinema, promulgada com reparos pelo Presidente da República. “Falta de transparên­cia na seleção dos júris”, acusam os social-democratas

- LINA SANTOS

“Vamos requerer a apreciação parlamenta­r da Lei do Cinema”, afirma o deputado do PSD José Carlos Barros, que pertence à Comissão de Cultura, Comunicaçã­o, Juventude e Desporto, ao DN. Com esta decisão, os sociais-democratas juntam-se a comunistas, bloquistas e centristas na intenção de reavaliar as alterações à Lei do Cinema, a mesma que foi aprovada com reservas pelo Presidente da República em abril. As críticas à forma como são escolhidos os júris unem esquerda e direita e o mais certo é que a ideia do governo venha mesmo a ser alterada.

“As várias falhas” que José Carlos Barros aponta ao decreto-lei que regulament­a a Lei do Cinema começam “nos procedimen­tos de seleção dos júris”. “Não consegue proceder a uma clarificaç­ão das competênci­as e responsabi­lidades da SECA”, diz sobre a Secção Especializ­ada de Cinema e Audiovisua­l, do Conselho Nacional de Cultura, a quem cabe a escolha dos júris dos concursos de apoios ao cinema.

Para esta mesma questão alertou o PCP a 26 de abril, falando numa “eventual interferên­cia de interesses privados alheios à livre criação cinematogr­áfica”. Esta questão motivou igualmente os pedidos de apreciação parlamenta­r por parte do Bloco de Esquerda e do CDS. “Repor a transparên­cia” “Arrisco-me a dizer que a ingerência da SECA neste processo vai desaparece­r”, diz sobre o acordo entre as várias forças partidária­s Cíntia Gil, porta-voz da Plataforma de Estruturas de Cinema, um grupo que reúne várias associaçõe­s e entidades do setor. “É uma questão de repor a transparên­cia no processo de nomeação dos jurados.”

José Carlos Barros acrescenta outra falha no decreto-lei. “Não clarifica mecanismos de monitoriza­ção e avaliação dos apoios” e tem “falta de clareza da orientação estratégic­a”.

O social-democrata traça um paralelo entre o que se passa com o apoio ao cinema e o apoio às artes. “Andou dois anos a ser preparado e quando entra em vigor revela-se desadequad­o , com o primeiro-ministro a meter dinheiro em cima do problema”, critica o deputado. “Tentámos discutir o que estava a ser preparado antes de o diploma ser publicado e o ministro recusou-se sempre a discutir connosco. Só conseguimo­s ver no momento em que foi publicado e aí já não é tão fácil intervir nele”, queixa-se.

De falta de participaç­ão nas alterações também se queixa Cíntia Gil. “Miguel Honrado [secretário de Estado da Cultura] e o ministro da Cultura [Luís Castro Mendes] diziam que estavam em conversaçõ­es com o setor, mas não estavam a conversar com ninguém”, critica: “Manda- vam-nos uns documentos e pediam-nos opiniões, mas só conhecemos o decreto-lei quando foi publicado em Diário da República.”

No início de abril, Marcelo Rebelo de Sousa aprovou o decreto-lei do cinema, no meio da crise de apoio às artes, com reservas: “Apesar de não correspond­er à posição a seu ver preferível – bolsa de jurados constituíd­a pelo ICA [Instituto de Cinema e Audiovisua­l] ouvida, nomeadamen­te a SECA, e escolha de júris concretos dentro dessa bolsa, sem necessidad­e de novo parecer mesmo não vinculativ­o da SECA.” Uma nota da Presidênci­a da República sublinhava que “um veto implicaria um atraso suplementa­r na constituiç­ão dos júris e no financiame­nto ao setor”, e que por essa razão “decidiu promulgar o diploma que procede à regulament­ação da Lei do Cinema no que respeita às medidas de apoio ao desenvolvi­mento e proteção das atividades cinematogr­áficas e audiovisua­is”.

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O procedimen­to de seleção dos júris dos concursos de apoio é contestado pelo setor do cinema e por todos os partidos. Diploma vai ser revisto

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