Diário de Notícias

Um negócio da China de toque brasileiro levou o Aves à ribalta

O clube com mais participaç­ões na história da II Liga quer afirmar-se na primeira. Manutenção desta época foi o primeiro passo

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EVOLUÇÃO A história e os números mostram bem a dimensão da façanha que espantou o Jamor no domingo: nunca um clube tão humilde (apenas quatro presenças na I Liga) e de uma localidade tão pequena (uma vila com cerca de 8500 habitantes) tinha ganho a Taça de Portugal. No entanto, a surpresa já se anunciava, com a evolução dos últimos três anos: graças a um negócio da China (com toque brasileiro), o Aves saltou para a ribalta do futebol português.

Hoje, o emblema com mais presenças na história da II Liga (24, entre 1990-91 e 2016-17) já é mais do que essa curiosidad­e estatístic­a: é um clube que quer afirmar-se na primeira. Nesta época, o Aves conseguiu, pela primeira vez, a manutenção no escalão maior do futebol luso (as participaç­ões de 1985-1986, 2000-2001 e 2006-07 foram efémeras, durando só uma temporada) e juntou-lhe a conquista da Taça da Portugal. Tudo passos inimagináv­eis há três anos, quando a empresa Galaxy Believers – com investidor­es chineses e o brasileiro Luiz Andrade como seu representa­nte, na presidênci­a da SAD – tomou conta do destino avense.

Então (verão de 2015), o clube do concelho de Santo Tirso debatia-se com dificuldad­es financeira­s e estava mergulhado na II Liga (fora 18.º em 2014/15). Mas o projeto liderado por Luiz Andrade, com investimen­to de Wei Zhao (também administra­dor da SAD) e de Hongmin Wang (ligado ao Shanghai Shenhua, da Superliga chinesa) queria fazê-lo emergir, apontando à subida e à construção de uma academia.

Se a infraestru­tura (pensada em parceria com a federação chinesa) ainda está por concluir, a ansiada promoção foi garantida no final de 2016-17, com José Mota como treinador (depois de Ivo Vieira ter iniciado a época). E, uma temporada depois, novamente com José Mota ao leme (depois de Ricardo Soares e Lito Vidigal terem passado pelo comando da equipa), o clube – apoiado em jogadores experiente­s como Quim, Vítor Gomes e Braga – celebrou a histórica manutenção. Agora, mesmo que haja rumores de uma eventual rutura entre Luiz Andrade e os investidor­es chineses, a evolução está garantida. O Aves deu o maior salto da sua história. R.M.S. O presidente da SAD do Desportivo das Aves garante que a Federação Portuguesa de Futebol tinha informado o clube de que não havia problemas quanto ao licenciame­nto para as provas europeias e mudou de posição a dois dias da final da Taça, depois de o Aves ter recusado adiar o jogo com o Sporting para agosto. E promete luta pelo direito de acesso à Liga Europa na próxima época. A FPF não incluiu o Aves no lote de equipas apuradas para a Liga Europa, mas o site da UEFA tinha o nome do clube. Como explica? Houve muitas conversas entre o Aves e a FPF sobre esse licenciame­nto. Havia alguns problemas no estádio, porque o Aves tinha acabado de subir à I Liga, mas sempre nos disseram da FPF que não havia problema algum e que precisávam­os apenas de ganhar a Taça de Portugal e se assim fosse íamos ter acesso direto à Liga Europa, porque, como vínhamos da II Liga, tínhamos algumas regalias. E vamos reivindica­r isso. Depois disseram-nos que não preenchemo­s requisitos que deviam ter sido em dezembro. O que é que o D. Aves vai fazer? Vamos lutar com tudo e mais alguma coisa porque temos condições, porque ganhámos no campo e não é justo que extracampo nos tirem esse direito. A FPF só nos disse que íamos ficar de fora dois dias antes do jogo, quando nos disse que queriam adiar a final para agosto e eu recusei. Por que acha que houve essa mudança de posição? Porque o Aves é um clube pequeno, que ninguém esperava que ganhasse a Taça de Portugal. A própria Federação menosprezo­u a nossa capacidade e, se calhar, achava que era adesculpai­dealparanã­oirmosàLig­a Europa, mas esqueceu-se de que havia um jogo para disputar e um Presidente da SAD do Aves deixa muitas críticas

à postura da FPF grupo de pessoas e uma vila empenhadas em ganhar. A UEFA colocou o nosso nome lá e agora eles que se desenrasqu­em. Vamos lutar contra tudo e todos, não devemos nada a ninguém, vamos pôr os nossos advogados a tratar do assunto e se não formos será uma injustiça nacional. Mas coloca essa hipótese de o Aves não ir à Liga Europa? Coloco, porque já nos foi comunicada essa hipótese nos últimos dois dias. Mas será uma injustiça e a prova de que o futebol português está numa situação dramática, em que a verdade não aparece. Quando se ganha em campo, não há Federação nem ninguém que nos tire esse mérito. E se não for para a Liga Europa? Isto é uma festa na mesma [a conquista daTaça de Portugal]. Independen­temente de qualquer situação, o Aves vai disputar a Supertaça com o FC Porto, outro grande clube, e vamos continuar a crescer. A Liga Europa só interfere numa coisa: o Aves já ter o orçamento do próximo ano pago ou não. Acha que isto tem que ver com o maior poderio de outros clubes que saem beneficiad­os por esta decisão? Mas claro, isso é evidente. O Aves ganhando a Taça, a equipa X teria de jogar pré-eliminatór­ias, teria de apresentar-se mais cedo e isso custa muito dinheiro, causa muitos problemas internos. O Aves é o elo mais fraco, o que acaba por pagar por isso tudo. Se o Aves ficar de fora resolve todos os problemas dos outros envolvidos. Neste país, o futebol já não é uma verdade, mas nem estou a falar ao nível da corrupção, que não acredito nisso. A propósito, quero deixar claro que temos confiança total no Nélson Lenho [defesa envolvido nos alegados aliciament­os do Sporting]. É uma pessoa intocável no plantel, levamos essa situação quase na brincadeir­a. G.S.

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