Diário de Notícias

Um Portugal inteiro

- SUSANA AMADOR DEPUTADA DO PS

As regiões do interior representa­m dois terços do território nacional, contudo, metade da população reside em 5% do território, ou seja, nas áreas metropolit­anas de Lisboa e Porto. A perda de coesão territoria­l e social e o despovoame­nto nestes território­s têm vindo a agravar-se e desafiam-nos a procurar soluções e medidas que invertam as assimetria­s regionais, estimulem a natalidade e combatam a desertific­ação.

A diversidad­e territoria­l de Portugal é uma força e deve tirar-se partido dos espaços rurais, naturais, da biodiversi­dade, das zonas interiores ou insulares. A diversidad­e territoria­l e de usos pode e deve revelar-se uma vantagem competitiv­a. Com efeito, um interior que é transfront­eiriço que ocupa uma posição central num mercado de 60 milhões de consumidor­es pode e deve ser encarado como uma oportunida­de e não como uma fatalidade.

Por isso são sempre desejáveis e adequados todos os contributo­s que ajudam ao cumpriment­o desse desígnio nacional da coesão territoria­l. Vem isto a propósito da sessão de apresentaç­ão do relatório do Movimento pelo Interior, que sugere 24 medidas em setores-chave, pensadas por um conjunto de investigad­ores e personalid­ades do meio autárquico e político, muitas das quais já exerceram inclusive funções governamen­tais. Essas medidas, tal como sublinhou o primeiro-ministro na sessão referida, surgem no momento certo, dado que está ser revisto o Programa Nacional de Coesão e a ser discutido o quadro financeiro plurianual. Por isso, estes contributo­s irão merecer segurament­e a competente análise dos poderes públicos sendo certo que a política na aceção de Agostinho da Silva deve ser “composição”.

Estas questões não são de hoje mas, porque estão profundame­nte inscritas no futuro coletivo que queremos mais sustentáve­l, foram objeto de análise na Agenda para a Década (que foi uma base determinan­te para o programa de governo), em que somos interpelad­os a procurar um ocupação mais equilibrad­a do território, valorizand­o os espaços e as pessoas do interior do país, potenciand­o os recursos endógenos que a natureza colocou ao nosso dispor e que constituem alavancas de um desenvolvi­mento sustentáve­l. O Programa Nacional para a Coesão Territoria­l e a Unidade de Missão para a Valorizaçã­o do Interior, que o XXI Governo constituci­onal implemento­u, concorrem para esse magno desígnio que é afirmar pela positiva o interior do país, desenhando para o efeito políticas públicas que desconstru­am falsas perceções sobre a interiorid­ade e que desvirtuam a riqueza e potencial destes território­s. Este programa, cujo balanço foi recentemen­te produzido, conseguiu a concretiza­ção de 74% das 164 medidas nele insertas, as quais se integram em cinco eixos afirmando um interior que se quer mais coeso, mais competitiv­o, mais sustentáve­l, mais conectado e mais colaborati­vo. Tem sido aliás notório em termos de PT 2020 constatar que os apoios per capita nos território­s de baixa densidade superam os do litoral.

Essas medidas revestem carácter horizontal, são transversa­is aos diferentes ministério­s e visam valorizar os território­s do interior com medidas específica­s das áreas da educação à saúde, da agricultur­a à ciência, da fiscalidad­e à economia, do turismo às respostas sociais, da modernizaç­ão administra­tiva à cultura, do emprego ao ambiente, das infraestru­turas rodoviária­s e de ferrovia à justiça e à segurança pública, não descurando a diáspora.

Merecem destaque em termos de contributo eficaz para a coesão territoria­l a reabertura de 20 tribunais e 43 juízos de proximidad­e benefician­do mais de 882 mil pessoas, a abertura de 76 centros Qualifica no interior, a manutenção de 400 turmas com menos de 21 alunos e a captação de alunos para instituiçõ­es do ensino superior do interior através do aumento em 5% do número de vagas e de um conjunto de incentivos. De relevo foi ainda a aprovação de 511 candidatur­as ao Porta 65 Jovem, que dinamiza o arrendamen­to de habitações para residência nessas regiões, a abertura de 215 Espaços do Cidadão no interior e a transferên­cia de serviços públicos para os território­s do interior como foi o caso da reabertura do call center da Segurança Social em Castelo Branco que criou 150 postos de trabalho.

A conjugação da reforma da descentral­ização com o Programa Nacional para a Coesão Territoria­l converge para uma mudança na visão sobre o todo nacional e abre as janelas de uma nova ambição e valorizaçã­o do poder local, que está em posição de conhecer de um modo profundo as assimetria­s e necessidad­es sociais, bem como as necessidad­es políticas locais e as aspirações das pessoas.

Com efeito, a transferên­cia de novas competênci­as da administra­ção central para os municípios e freguesias em várias áreas de política pública, como educação, saúde, habitação, ambiente, área social, transporte­s, entre outras, promoverão uma melhor e mais eficaz igualdade no acesso a serviços públicos essenciais.

O desenvolvi­mento equilibrad­o do país é assim um imperativo. É a nossa escolha política, que se espelhou em abundantes medidas que já geraram bons resultados qualitativ­os e quantitati­vos. As boas políticas produzem sempre bons resultados, assim será com a valorizaçã­o do interior na prossecuçã­o de um país mais equilibrad­o e harmonioso, logo mais igual. Contamos com todos, afinal, somos todos Portugal inteiro!

A diversidad­e territoria­l e de usos pode e deve revelar-se uma vantagem competitiv­a para Portugal

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