Diário de Notícias

Nem falhar a Liga Europa manchou “um dia perfeito em Vila das Aves”

Aves. Festa da conquista da Taça de Portugal durou noite e dia na pequena vila de Santo Tirso, apesar das notícias sobre a não ida à Europa

- GUILHERME SOARES

Ter menos adeptos não significa necessaria­mente festejos menos intensos na altura de celebrar um feito inédito. Prova disso foram as 24 horas que se viveram na Vila das Aves após a conquista da Taça de Portugal, numa festa inebriante que se estendeu até à Câmara Municipal de Santo Tirso, onde ao fim da tarde de ontem a equipa do Desportivo das Aves foi recebida nos Paços de Concelho, com uma pequena multidão a encher a praça em frente à varanda da autarquia.

Alguns milhares de adeptos, dois a três mil – numa vila que tem cerca de 8500 habitantes – não quiseram perder a honraria histórica concedida após a conquista da Taça de Portugal de futebol, a primeira da sua história, após o triunfo por 2-1 sobre o Sporting, no domingo. “O maior feito do clube e da vila”, diz ao DN Pedro Vaz, de 37 anos, a restabelec­er-se ainda das emoções que viveu no Jamor com a mulher, Ana, os sogros e demais família.

Um a um, subiram ao palco da câmara os protagonis­tas para receberem uma medalha do município, comemorati­va do feito. Quim, o veterano guarda-redes de 42 anos, e Guedes, o autor dos dois golos, foram naturalmen­te os mais aplaudidos, mas todos os jogadores, treinadore­s e dirigentes foram devidament­e ovacionado­s por adeptos em êxtase, a quem nem as más notícias sobre a anunciada ausência do clube na Liga Europa da próxima época fizeram desanimar.

Durante o dia ontem ficou a saber-se que a Federação Portuguesa de Futebol não incluiu o Aves na lista para as provas europeias, por alegado incumprime­nto nos prazos de licenciame­nto, mas o site da UEFA contemplav­a o nome da equipa, o que deu força ao presidente da SAD avense, Luiz Andrade, para, entre críticas à FPF, acreditar numa solução positiva (ver entrevista).

Pedro Vaz, por exemplo, não fica muito preocupado. “Claro que gostava de ver aqui um Chelsea ou um Atlético de Madrid, mas prefiro que o clube cresça de forma sustentada e há vários casos em Portugal de equipas que foram à Liga Europa e depois desceram de divisão”, lembra. Ao lado de Pedro está Ana Queirós, de 26 anos. Eles são os sócios 1799 e 1800 do Desportivo das Aves. O bebé vindouro que cresce na barriga de Ana também ‘foi’ ao Jamor e “será avense com toda a certeza”, garante a futura mãe, mais ferrenha. Pouco sono e muitas promessas Quando acordou, Joaquim Silva, olhos raiados de pouco sono, quase que teve de beliscar-se. “Não foi um sonho!”, diz, elevando o tom, olhos bem abertos agora. “Deitei-me às 03.00 e levantei-me às 05.00 para trabalhar”, conta.

Estamos no Vale do Ave, zona altamente industrial­izada, e Manuel Pereira também só dormiu duas horas. “Foi 80 por cento surpresa, os outros 20 por cento não! O Sporting esteve oito dias parado e mentalment­e estava muito em baixo. Mas o Desportivo das Aves não teve nada que ver com isso e aproveitou a oportunida­de”, considera, ao tomar um café na esplanada do Café Central. A poucos metros, Kika, uma cadela labradora preta, tem enroscado no pescoço um cachecol do clube que, em novembro, cumpre 88 anos.

Miguel Carneiro, 21 anos cumpridos ontem – “a Taça foi a melhor prenda” –, acusa o cansaço de quase duas noites em branco, muita emoção e festa. Está com outros 30 a 40 adeptos no café onde habitualme­nte se reúnem, mais conhecido por Associação de Adeptos, e relembra o jogo que deu ao clube da pequena vila do concelho de Santo Tirso a sua primeira Taça de Portugal. O jovem membro da claque Força Avense admite que quando o Sporting reduziu para 2-1, já na parte final da partida, teve “muito medo”. “Lembrei-me logo que eles tinham recuperado de um 2-0 contra o Braga e ganharam a Taça, há uns anos.”

“Nós estávamos habituados a festejar as subidas de divisão, este ano também a manutenção [outra coisa nunca antes conseguida no clube], mas vencer a Taça de Portugal… Defensivam­ente estivemos muito bem nesses minutos finais e, quando o árbitro apitou, foi baba e ranho!”, atira.

Carlos Fernandes, 45 anos, blusão de fato de treino do Aves e tacinha de vinho branco à frente, lamenta se o desenlace da inscrição na Liga Europa for negativo, porque “era bom, era dinheiro e prestígio…” Mas o mais importante foi mesmo ganhar a Taça.

Junta-se à conversa, na mesa, Leandro Almeida, de 51 anos. Diz que jogou no clube em jovem e nota, bem-disposto, que “o Desportivo das Aves nunca perdeu uma final” – só disputou esta.

Antes do jogo foram feitas promessas: Joaquim Silva garante que vai a pé até São Bento da Porta Aberta, no Gerês, a quase 60 quilómetro­s. PedroVaz foi mais comedido: vai ao Monte da Nossa Senhora da Assunção, ponto mais alto de Santo Tirso, onde quer colocar uma bandeira do clube como símbolo da conquista. À sua escala, o Desportivo das Aves conquistou o Evereste.

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