Diário de Notícias

Os filhos do Parque das Nações querem ver o bairro mais virado para eles

Os pais mudaram-se para o bairro mais novo da capital logo a seguir à exposição de Lisboa. Adoram o ambiente familiar, os espaços verdes e os grandes passeios, ideais para andar de bicicleta, mas lamentam a falta de manutenção e de equipament­os

- PEDRO SOUSA TAVARES

Mariana, Vicente e Estêvão têm entre os 15 e os 11 anos e fazem parte de uma geração criada no Parque das Nações, a freguesia mais jovem de Lisboa Todos gostam de morar no bairro, pelos muitos espaços verdes e grandes passeios. Mas também todos lamentam a falta de alguns serviços e equipament­os pensados para eles

“Antigament­e, isto era tudo relva verde. Agora, a maior parte são ervas daninhas e está quase tudo amarelo, principalm­ente no verão. Falta de rega. Não sei se é uma ironia, por estarmos em frente ao Mar da Palha.” Estêvão, 11 anos – quase a fazer 12 –, é o mais novo dos três amigos. Mas é também o mais afoito a dizer o que pensa, sobretudo quando se trata de apontar as coisas que gostaria de ver melhoradas no Parque das Nações, o único bairro em que morou desde que nasceu.

Não se trata de não gostar do sítio onde vive, garante. Antes pelo contrário: não se imaginaria mais satisfeito noutro local. “Tenho os meus amigos aqui ao pé e, ao contrário de outras zonas de Lisboa, temos muito espaço para jogar à bola ou andar de bicicleta”, conta. “Mas, ao longo dos anos, muitas coisas aqui vieram a deteriorar-se aos poucos”, explica. É a falta de rega e manutenção dos jardins mas também “os acessos para fora do Parque das Nações, que estão a tornar-se cada vez mais difíceis”, fazendo epopeias das suas saídas com os amigos para os treinos de râguebi, no Técnico. Ou ainda a decisão, pela Escola Vasco da Gama, onde estuda, de interditar o estacionam­ento das bicicletas dentro das suas instalaçõe­s. “Continuo a ir sempre de bicicleta para a escola. Mas já me roubaram uma e ao meu irmão duas.”

No fundo, explica o irmãoVicen­te, 15 anos, os “parquenses” de gema gostariam que a sua freguesia fosse mais pensada tendo em conta os seus inte- resses, e não apenas os daqueles que a usam em visitas ocasionais, para assistir a eventos na FIL e no Pavilhão Atlântico ou simplesmen­te passear à beira-rio. “Os meus amigos, quando cá vêm, dizem-me que sou um sortudo por viver aqui, que tenho todos estes espaços verdes, e é verdade”, reconhece. Mas também há coisas essenciais que, sem explicação aparente, simplesmen­te não existem. “Dizem que somos uma das freguesias mais jovens do país mas não temos um campo de jogos. Eu já nem pedia tanto: bastavam umas balizas, uma tabela de basquete”, ilustra. Um autocarro, duas escolas Com cerca de 20% dos seus 28 mil habitantes com menos de catorze anos, o Parque das Nações é claramente um dos bairros mais jovens de Portugal e da cidade de Lisboa. Mas os equipament­os urbanos, por mais que as restantes crianças e adolescent­es da cidade lhes invejem a envolvênci­a, não têm acompanhad­o esta tendência. Na verdade, nunca o fizeram.

Durante muito tempo, a única escola pública a servir todas as três áreas da antiga Expo 98 foi a Vasco da Gama, na zona norte, ainda hoje lotada, cuja oferta vai até ao 9.º ano de escolarida­de. Em 2010, depois de uma longa batalha travada pelos moradores, foi inaugurada a EB1/JI Parque das Nações. A intenção era transformá-la numa básica integrada, também até ao 9.º ano. Mas até agora a sua oferta resume-se ao pré-escolar e 1.º ciclo.

Quem entra no secundário, como Mariana Madaleno, 15 anos, tem de procurar soluções fora do bairro. “Es- tudo na António Damásio (Olivais), que é para onde vai a maioria dos alunos depois da Vasco da Gama”, conta. Gosta da escola. Só não gosta que o único autocarro que passa no bairro e na secundária tenha “intervalos de 45 em 45 minutos, sendo que os horários nem sequer coincidem com os das atividades da escola”, explica.

Significa isto que gostariam de mudar de casa, para zonas mais bem servidas de equipament­os? A resposta de todos é um rotundo “não”. “É uma zona ótima para se viver”, diz Mariana, assumindo até que “gostava” de continuar por lá quando chegar a altura de encontrar a sua própria casa. Mas também concordam todos que, para que isso aconteça, o seu bairro tem de preservar o que tem de bom e continuar a crescer com eles no que ainda lhe falta.

Diogo Madaleno, o pai de Mariana, chegou ao Parque das Nações em 1999, criando ali os quatro filhos. E explica que é precisamen­te por terem conhecido a melhor versão do bairro que muitas famílias se preocupam com o seu rumo. “Dói a alma ver o que isto era e o que é agora”, confessa. “Os passeios estavam limpos e hoje em dia não estão, as pedras da calçada saltam e hoje em dia ficamos com buracos na rua durante meses. Continua a ser um ótimo sítio para criar os filhos”, ressalva. “Mas por vezes pergunto-me se ainda o será dentro de mais 20 anos.”

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