Diário de Notícias

Resposta da Coreia do Norte a Pence foi a última gota para Trump

Tal como surpreende­u o mundo ao anunciar uma cimeira com Kim Jong-un, o presidente dos EUA volta a causar surpresa ao cancelar o encontro marcado para Singapura. E dá troco à retórica de Pyongyang com a ameaça militar

- CÉSAR AVÓ

O crescente ceticismo que envolvia a realização da cimeira entre Donald Trump e Kim Jong-un culminou com o desabar da ponte que estava a ser construída entreWashi­ngton e Pyongyang. A anulação do encontro, por parte do presidente norte-americano, explicou este na carta endereçada ao norte-coreano, deveu-se à “hostilidad­e aberta” que o regime norte-coreano mostrou nos últimos dias. Horas mais tarde declarou ter as forças armadas em prontidão.

A “última gota”, disseram fontes da Casa Branca à Reuters, foram as declaraçõe­s da vice-ministra dos Negócios Estrangeir­os, Choe Son-hui, sobre o vice-presidente Mike Pence. O dirigente norte-americano, em recente entrevista à Fox News, disse que “isto só vai terminar como o modelo líbio se Kim Jong-un não chegar a acordo”. Ou seja, disse que o líder norte-coreano teria o mesmo destino de Muammar Kadhafi – morto pelo próprio povo na sequência da intervençã­o da NATO, em 2011 – se as negociaçõe­s não chegassem a bom porto. Ofensas a Pense A resposta de Choe às “observaçõe­s desabridas e desavergon­hadas”, veiculada pela agência KCNA, chegou ontem: “Não posso reprimir a minha surpresa com comentário­s tão ignorantes e estúpidos que saem da boca do vice-presidente dos EUA.” A ministra concluiu: “Se nos vamos encontrar numa sala de reuniões ou num confronto nuclear, depende inteiramen­te da decisão e do comportame­nto dos Estados Unidos.” Outra fonte da Casa Branca realça esta frase: “Os norte-coreanos ameaçaram-nos literalmen­te com guerra nuclear na declaração. Cimeira alguma podia ter sucesso perante estas circunstân­cias.”

“Infelizmen­te, tendo em conta a enorme raiva e hostilidad­e aberta no vosso comunicado mais recente, sinto que não é apropriado, nesta altura, que se realize este encontro há muito planeado”, escreveu Trump a Jong-un. “Vocês falam das vossas capacidade­s nucleares, mas as nossas são tão excecionai­s e fortes que rezo a Deus para nunca terem de ser usadas”, advertiu.

Na missiva, Trump agradece a recente libertação dos três cidadãos norte-americanos, um “bonito gesto, muito apreciado”. E “espera um dia conhecer” Kim Jong-un e, caso este mudar de ideias, que o contacte, por telefone ou por carta.

“O mundo, e a Coreia do Norte em particular, perderam uma grande oportunida­de para uma paz duradoura e grande prosperida­de e riqueza. Esta oportunida­de perdida é verdadeira­mente um momento triste na história”, conclui.

Horas mais tarde, nas primeiras declaraçõe­s públicas, o presidente norte-americano voltou a dar sinais de esperança e de ameaça em simultâneo. “Uma grande oportunida­de existe no futuro, mas este foi um enorme revés.” E de seguida anunciou que “as forças armadas estão prontas, se necessário”, tendo advertido para qualquer jogada insensata de Pyongyang. Nesse cenário, revelou, a Coreia do Sul e o Japão também estão prontos para arcar com grande parte do fardo financeiro “se uma situação infeliz for imposta” pela Coreia do Norte.

Trump cancelou a cimeira bilateral algumas horas depois de a Coreia do Norte ter dado um sinal de boa vontade e cumprido a promessa de explodir os túneis do principal local de testes nucleares, em Punggye-ri, no nordeste do país.

Este foi um passo mais simbólico do que outra coisa, até porque a Coreia do Norte já havia declarado a conclusão do programa de testes nucleares. Um grupo de jornalista­s

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