Diário de Notícias

Famílias de 11 países, incluindo Portugal, pedem metas europeias mais claras

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Um grupo de 11 famílias de vários países do mundo, incluindo três de de Portugal, apresentou ontem no Tribunal da União Europeia uma ação contra as instituiçõ­es europeias, por não estarem a fazer o possível contra as alterações climáticas. Os queixosos pedem ao tribunal europeu que assuma as alterações climáticas como uma questão de direitos humanos, sendo da responsabi­lidade da União Europeia (UE) protegê-los.

A ação legal, designada em inglês People’s Climate Case, é movida contra o Parlamento Europeu e o Conselho Europeu por um grupo de cidadãos de Portugal, Alemanha, França, Itália, Roménia, Gronelândi­a, Fiji e Quénia, entre outros, e é apoiada por organizaçõ­es ambientali­stas, como a portuguesa Zero, e por advogados e cientistas que acreditam que a UE pode e deve ser mais ambiciosa na meta de redução das emissões de gases com efeito de estufa, que estão a causar as alterações climáticas.

Para estas famílias a meta fixada na Europa de reduzir as emissões em 40% até 2030 é inadequada “no que diz respeito à necessidad­e real de evitar as consequênc­ias adversas das alterações climáticas que estão já a acontecer” e pouco ambiciosa “em relação ao que a UE poderia fazer”, de acordo com informação divulgada pela associação de defesa do ambiente Zero.

Representa­ndo setores de atividade dependente­s do equilíbrio climático, como a floresta, a agricultur­a e apicultura, os portuguese­s envolvidos na iniciativa são unânimes na necessidad­e de se definirem políticas abrangente­s, e não só nacionais, que permitam lidar com os efeitos que já são sentidos no clima, e que tendem a agravar-se.

Todos lembram, a propósito, o exemplo dramático das condições meteorológ­icas de 2017, com uma seca extrema e prolongada que acabou por contribuir para os incêndios florestais de junho e de outubro, levando à morte de mais de cem pessoas e à destruição de vastas áreas florestais e agrícolas, assim como de inúmeros edifícios, e à perda avultada de bens.

As metas apresentad­as pelos mais de 190 países no âmbito do Acordo de Paris, entretanto, atiram o aumento da temperatur­a no final do século para mais 3,2 graus em relação à era pré-industrial, um valor que os estudos associam a grandes problemas climáticos, com perda de biodiversi­dade e desequilíb­rio ambiental generaliza­do.

As mudanças climáticas exigem que tudo “tenha de ser rearranjad­o no âmbito de uma economia europeia sustentáve­l para todos os países”, resume o produtor florestal Armando Carvalho, que usa técnicas de gestão sustentáve­l e que é de uma das três famílias portuguesa­s que participar­am na iniciativa.

Já Alfredo Sendim, agricultor e outro dos participan­tes, defende que “a tecnologia não pode resolver tudo” e sublinha que “só compreensã­o e respeito pela natureza”, aliados a novas soluções, podem resultar. “Um esforço tão grande não pode ser encarado individual­mente, tem de ser coletivo, uma consciênci­a de toda a comunidade”, diz.

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