Diário de Notícias

Quem levanta congresso é rei

- PAULA SÁ JORNALISTA

José Sócrates podia ter sido o elefante na sala mas não foi. Ficou inteligent­emente bem arrumadinh­o a um canto, pelo menos até o julgamento da Operação Marquês ter um desfecho, ao ser incorporad­o na história do PS sem sobressalt­os pelo próprio António Costa. E assim, num congresso sem chama, porque sem polémica ou combate entre fações, quem levantasse a sala era rei. No palmómetro, como é óbvio, Costa, primeiro-ministro que tirou ao PS a sede de poder, ganhou sempre. Mas não foi ele que trouxe a centelha de emoção entre os congressis­tas na Batalha. Um dos seus delfins subiu à tribuna e arrebatou a sala. Pedro Nuno Santos perfilou-se claramente como sucessor de Costa, ainda que da forma mais benévola que há, já que não escondeu ser um defensor incondicio­nal do secretário-geral do PS. A quem simbolicam­ente deu um abraço caloroso após o discurso. E o que fez Pedro Nuno Santos mais eficaz do que Fernando Medina e Ana Catarina Mendes, os outros dois infantes de Costa? Simplesmen­te apelou à alma do PS. No palco, rejeitou um partido virado para as “elites”. Pediu aos militantes que nunca esqueçam quem esteve na origem dos partidos socialista­s, a maioria do povo trabalhado­r, em particular os milhares dos que trabalham mais de 40 horas e “ganham pouco”. “Ganham pouco!”, insistiu, num discurso curto que respeitou os minutos disponívei­s. E incentivou o PS a sair à rua com “orgulho” passados estes dois anos e meio de governo. Foi aplaudido de pé e de punho erguido. Levantou a sala e foi rei. E demonstrou que o carisma dos políticos nasce mais vezes de um discurso feito de coisas simples mas reais do que de grandes deambulaçõ­es sobre o posicionam­ento ideológico dos partidos. Também aí ganhou pontos e talvez os tenha agarrado da mão do experiente Costa, porque insistiu que o PS não tem de ter crises de identidade. É de esquerda e será de esquerda. Coisas claras e sem dramas existencia­is que fazem a diferença quando há mais concorrent­es na corrida à liderança do partido, muito à la longue como é óbvio.

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