“Temos dias em que não abrimos a caixa e isso diz tudo”, contou ao DN Manuela Correia, proprietária da perfumaria Via Vitória
Tapumes, condicionamentos de trânsito, lojas a perder clientes até terem de encerrar as portas e um grande sentimento de insegurança. Este é o dia-a-dia dos comerciantes e moradores da Praça do Chile desde outubro do ano passado, quando começaram as obras na estação do metro de Arroios para alargamento do cais, de forma a que os comboios de seis carruagens possam ali parar. Intervenção que, de acordo com as informações da empresa Metropolitano de Lisboa, só deve estar terminada no primeiro semestre do próximo ano.
Perspetiva que ainda aumenta o desespero dos comerciantes da Praça do Chile que, em outubro de 2017, assistiram à colocação de tapumes na rua junto ao acesso à estação que tinha sido encerrada em junho. Manuela Correia, proprietária da perfumariaViaVitória, é uma das pessoas que não esconde o desânimo e revolta e chega, em declarações ao DN, a questionar a fiscalização feita no decorrer destas obras. “Parece-me que podem andar à velocidade que querem. Não se vê aqui nada que nos tranquilize que a obra esteja a avançar”, relatou.
A intervenção que leva ao desespero os empresários tem um custo previsto de 7,5 milhões de euros e como objetivo a ampliação do cais de embarque para 105 metros de comprimento, a modernização de equipamentos, sistemas e instalações e o melhoramento das condições de mobilidade e acesso. Segundo o Metropolitano adiantou ao DN, estão em curso as demolições no interior da estação com vista à execução das respetivas estruturas de reforço, assim como a construção de uma nova conduta de ventilação junto ao acesso nordeste.
Estando a reabertura da estação prevista para o primeiro semestre de 2019, até ao próximo ano quem passar de carro pela Praça do Chile dificilmente conseguirá vislumbrar as fachadas das lojas. Na tentativa de reduzir o impacte financeiro da falta de exposição, os comerciantes sugeriram à empresa que explora o metro a colocação de publicidade na rua. Mas as indicações com os nomes dos estabelecimentos, fixadas por ordem do Metro de Lisboa,
Obras afetam as vendas de muitas lojas, como as da tabacaria onde Márcia Ferreira trabalha não agradaram aos lojistas. “Não sentimos que a colocação das placas tenha tido repercussão, até porque não têm as medidas originalmente prometidas; pensámos que fossem maiores e mais chamativas”, descreveu Manuela Correia. Fechar mais cedo por receio No inverno, a falta de policiamento levou a dona da perfumaria a colocar em prática um horário diferente do habitual, passando a fechar a loja uma hora mais cedo, às seis da tarde. “Nem eu nem a minha funcionária nos sentíamos seguras, inclusivamente passámos a trabalhar com a porta fechada.” Os assaltos entre o estaleiro das obras e os prédios têm sido recorrentes. Já chegaram até a acontecer em plena luz do dia, como foi o caso de um idoso assaltado entre a loja de Manuela e a churrasqueira “Galifrangos”.
Para muitos estabelecimentos situados não só na Praça do Chile como nas ruas adjacentes – Morais Soares e Avenida Almirante Reis –, a situação está a tornar-se insustentável. “Temos dias em que não abrimos a caixa e isso diz tudo”, garante a proprietária da perfumariaViaVitória. A trabalhar há quatro anos na casa de pasto Ribeirão Preto, Adriano Soares frisou ao DN que o estabelecimento perdeu a vantagem de estar situado mesmo em frente ao acesso à estação do metropolitano: “Deixámos de ter os clientes diários que saíam do trabalho, consumiam aqui e regressavam à estação para apanharem novamente o metro.”
Na tasca A Parreirinha do Chile encontramos João Sérgio. Para se deslocar para o trabalho, João teve necessariamente de trocar Arroios pela estação de Anjos, descendo a Avenida Almirante Reis, onde reside. “Falo por todas as pessoas daqui, no geral, quando digo que a nossa vontade é que isto acabe o mais rapidamente possível. São obras e tempo a mais”, destacou. José Cardoso, dono de A Parreirinha do Chile, conta com a visita regular de clientes assíduos, como João, mas também de clientes novos que têm estado a passar a palavra através das redes sociais. “Por agora, as obras não têm trazido consequências para o nosso negócio”, garantiu.
A trabalhar na única tabacaria da Praça do Chile, Márcia Ferreira relatou a diminuição drástica de vendas associada ao começo desta empreitada. “Não sei até quando a minha patroa vai conseguir aguentar o negócio. A nossa sorte é o serviço de pagamentos payshop que chama clientes.” com Cláudia Cristão