Diário de Notícias

Rúben Dias nunca vestiu a camisola da seleção principal, mas mereceu a confiança de Fernando Santos para o Mundial 2018

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Rúben Dias foi convocado para o Mundial 2018 sem qualquer internacio­nalização. Ser chamado para jogar um Campeonato do Mundo de futebol sem nunca antes ter sentido o peso da camisola nacional é muito raro. O jovem central do Benfica é apenas o décimo jogador da história a conseguir tal proeza, depois de Fernando Peres, Lourenço, Figueiredo, Manuel Duarte e João Morais (Mundial 1966), Sobrinho, Bandeirinh­a e Jorge Martins (Mundial 1986) e ainda Rúben Amorim (Mundial 2010), que foi chamado a uma semana da prova para o lugar do lesionado Nani.

O guarda-redes Jorge Martins conseguiu mesmo a proeza de ir a duas grandes competiçõe­s sem nunca ter feito um único minuto pela seleção. Era guarda-redes do Vitória de Setúbal, em 1984, quando foi chamado para o Euro 1986 e foi ao Mundial do México já pelo Belenenses. Nesse ano, ainda antes de estourar o caso Saltillo, a dias da viagem para o México, Veloso acusou positivo num teste antidoping (mais tarde revelou-se negativo) e foi substituíd­o por Bandeirinh­a. O lateral portista viria de lá sem minutos e nunca chegou a estrear-se.

Já em 1966, Fernando Peres, Lourenço, Ernesto de Figueiredo, Manuel Duarte e João Morais viajaram para Inglaterra sem qualquer minuto pela seleção, ainda que tenham feito um particular já depois da convocatór­ia final.

Depois há vários casos de jogadores que foram chamados sem qualquer jogo oficial, mas com alguns particular­es nas pernas. Nélson, Jorge Andrade, Caneira e Hugo Viana, por exemplo, foram ao Mundial 2002 já com uma mão-cheia de particular­es jogados, mas sem jogos competitiv­os com a camisola das quinas. Tal como os guarda-redes, Daniel Fernandes, que foi ao Mundial 2010 com dois particular­es no currículo e Beto, que foi ao Mundial 2014 com sete jogos amigáveis.

No geral e contabiliz­ando também os campeonato­s da Europa, o jovem central encarnado é o 18.º (ver tabela) a ser chamado para jogar uma grande competição por Portugal sem qualquer internacio­nalização. E o quinto no último milénio, depois de Moreira (2004), Nuno Espírito Santo (2008), Rúben Amorim (2010) e Custódio (2012). Este último, então jogador do Sporting, acabou por fazer um jogo de preparação, mas já depois de a convocatór­ia final sair e Nuno Espírito Santos, por exemplo, nunca chegou a vestir a camisola nacional.

Agora é a vez de Rúben Dias. Fernando Santos tinha prometido que o jovem central não seria prejudicad­o por nunca antes ter sido eleito e não foi. Chamou-o, juntamente com Pepe, José Fonte e Bruno Alves, e depois justificou assim a escolha: “Não é pela idade ou pela experiênci­a internacio­nal, é por aquilo que as observaçõe­s ao longo de dois anos determinar­am (...) No Europeu de 2016 utilizei os quatro centrais. Há que pensar em todas as contingênc­ias. Sei bem o desgaste que este tipo de competiçõe­s provoca.” Mais raro do que ser chamado a zeros, é ser convocado para um Mundial e fazer a estreia pela seleção em pleno Campeonato do Mundo. Foi assim com Rúben Amorim, em 2010. “Cheguei uma semana antes e nem tive tempo para ficar nervoso ou ansioso. O Rúben Dias vai ter mais facilidade de integração, porque vai ter uns dias bons de estágio para assimilar as rotinas da seleção, o que vai facilitar muito a sua integração”, disse ao DN o antigo jogador, que se estreou na África do Sul.

Oito anos depois, um outro Rúben, também ele do Benfica, foi chamado a um Mundial sem antes se ter estreado pela seleção. A verdade é que já o podia ter feito, quando Fernando Santos o chamou para um duplo compromiss­o da seleção (particular­es com Egito e Holanda), mas uma lesão de última hora impediu o benfiquist­a de se estrear nas convocatór­ias e carimbar a primeira internacio­nalização. Algo que deverá acontecer amanhã, no particular com a Tunísia, em Braga.

Ser jovem e não ter internacio­nalizações até à data da convocatór­ia é coisa que não o deve afetar psicologic­amente, segundo Amorim: “Antigament­e, um jogador entrar a frio num balneário com Rui Costa, Figo, João Pinto, Baía e Couto se calhar fazia tremer um pouco, mas na minha altura, e mais ainda nos tempos que correm, já não. Hoje em dia a integração é muito fácil, mesmo no caso do Rúben Dias, que ainda não tinha sido chamado, os jogadores estão mais do que familiariz­ados com os ‘deuses’ do futebol, mesmo que um deles seja o Cristiano.”

Para o antigo jogador, a chamada do central do Benfica “tem obviamente a ver com a época que fez”, mas também com o que lhe parece ser já o pensamento futurista do selecionad­or. “Levando quatro centrais, e sendo a escolha entre ele e o Rolando, pelo que me pareceu, faz sentido levar um central mais jovem e de futuro, para lhe dar experiênci­a de grandes competiçõe­s, talvez já a

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