Diário de Notícias

Na batalha dos delfins, Pedro Nuno ganha vantagem a Medina

Fernando Medina “Não vejo nenhuma crise identitári­a que mereça resposta”

- JOÃO PEDRO HENRIQUES

Estamos em 2018 mas no PS vai já preparando o caminho para 2022, o ano em que, pelo calendário estatutári­o, deverá acontecer o congresso da sucessão de António Costa como líder do PS (se fizer mais um mandato como primeiro-ministro e esse mandato for o último, terminando em 2023).

Fosse esse congresso hoje e haveria uma certeza: na batalha que surdamente os delfins de Costa – Pedro Nuno Santos e Fernando Medina – estão a travar pela sucessão do atual líder, o primeiro levaria claramente vantagem. Foi com Pedro Nuno Santos, secretário de Estado dos Assuntos Parlamenta­res, que o PS presente no XXII Congresso do partido, na Batalha, demonstrou estar, aplaudindo de pé e com entusiasmo a sua intervençã­o.

Já com Fernando Medina – que falou pouco, depois de Pedro Nuno Santos, ontem à tarde – a reação foi exatamente a oposta: aplausos frios. O dirigente que António Costa escolheu para lhe suceder na presidênci­a da Câmara de Lisboa fez um discurso colado aos termos da moção global do secretário-geral. No que pareceu ser uma alfinetada a Pedro Nuno, disse que o PS não é um partido da “proclamaçã­o retórica vazia”, antes quer “transforma­r a realidade”.

Pedro Nuno Santos, pelo contrário, escolheu falar ao coração dos militantes. “Os partidos socialista­s não foram criados para representa­r as elites mas sim para as maiorias”, o PS representa “os que ganham mal e os que ganham pouco” e portanto “não pode deixar de falar para este povo”.

Estabelece­ndo claramente o que o PS não pode falar com os partidos à sua direita, afirmou: “Não contamos com o PSD e o CDS para proteger os trabalhado­res” ou os pensionist­as. E isto – assegurou no final, suscitando entusiasmo nas hostes – “não é populismo e não é radicalism­o: isto é ser socialista.” Antes de um e de outro intervirem, Ferro Rodrigues já tinha enunciado os nomes daqueles que quer ver como protagonis­tas do futuro no partido: “Ana Catarina Mendes, Pedro Nuno Santos, Fernando Medina, João Galamba, Pedro Delgado Alves, Mariana Vieira da Silva e Ana Mendes Godinho. É vossa vez.”

A sucessão de Costa é já uma espécie de pequeno elefante na sala – que coabita com outro grande elefante: José Sócrates. O nome do ex-líder não foi ontem pronunciad­o mas foram algumas as vozes – e de peso – que trouxeram o assunto à baila, veladament­e.

Primeiro foi Carlos César, que prometeu que o PS não hesitará em “reformar a legislação dos titulares de cargos políticos” de forma a correspond­er àquilo que a “socie-

“Não somos um partido da proclamaçã­o retórica e vazia. Somos um partido que todos os dias tem de saber ler o contexto”

FERNANDO MEDINA

PRESIDENTE DA CÂMARA DE LISBOA “[O PS representa] os que ganham mal e os que ganham pouco e não pode deixar de falar para este povo”

PEDRO NUNO SANTOS

LÍDER DO PS DE AVEIRO

dade espera dos seus representa­ntes: que invistam numa série de medidas que salvaguard­em o interesse público em detrimento do interesse privado”.

Manuel Alegre – outro dos militantes a suscitar grandes aplausos – faria um pouco mais tarde uma referência também indireta ao caso: “O Estado deve estar ao serviço do interesse geral e não de interesses privados”, porque “essa é a razão de ser do socialismo.” E o que se tem passado é que “há uma contaminaç­ão da vida política pelo poder financeiro global” e isso tem levado “à falência dos partidos convencion­ais” e à “subida dos populismos”.

Mas, entre um e outro, Ferro Rodrigues diria: “Não aceitamos que apaguem a memória, não permitirem­os que processos judiciais sejam usados para a criminaliz­ação de políticas ou para culpar pessoas através de lógicas abusivas de associação”, porque “isso é próprio de regimes totalitári­os”. E o partido nem tem nada que temer porque “a política de prevenção e combate à corrupção está no ADN do PS”. “Temos um património nesse domínio. Um património traduzido em leis e em meios de investigaç­ão. Estão em discussão várias iniciativa­s nessa frente, e o PS não deixará, uma vez mais, de liderar esse debate.”

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 ??  ?? Foi com Pedro Nuno Santos que o congresso do PS mostrou estar, aplaudindo de pé a sua intervençã­o. Já Fernando Medina (na foto a abraçar Manuel Alegre) teve direito a aplausos frios. Antes de ambos falarem, Ferro Rodrigues já apontara os nomes para o futuro do PS.
Foi com Pedro Nuno Santos que o congresso do PS mostrou estar, aplaudindo de pé a sua intervençã­o. Já Fernando Medina (na foto a abraçar Manuel Alegre) teve direito a aplausos frios. Antes de ambos falarem, Ferro Rodrigues já apontara os nomes para o futuro do PS.

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