A “aspiração legítima da maioria absoluta” e as cautelas eleitorais
PS está dividido. Há quem defenda o apelo à maioria em 2019. E há quem diga que eleitorado tem é de julgar livremente o governo
As ambições eleitorais do PS dificilmente podiam escapar ao congresso que antecede três eleições importantes – regionais da Madeira, europeias e legislativas. Neste segundo dia de encontro das hostes socialistas na Batalha houve alguns apelos a que o partido assuma com desassombro o pedido de uma maioria absoluta em 2019. Manuel Alegre e Vasco Cordeiro, líder do governo regional da Madeira, foram duas destas vozes.
Mas outros subiram à tribuna com maiores cautelas e as fórmulas “maioria clara” ou “reforçada” é o que entendem ser q.b para o partido se apresentar ao eleitorado. O deputado socialista Ascenso Simões foi um destes, ao pugnar pela “conquista de uma maioria o mais ampla que for possível”. Ou Assis, que incentivou o PS a sair da Batalha com a ambição de ganhar as eleições, que não ganhou em 2015, e voltar a “ser o maior partido parlamentar”. Admitiu que a maioria absoluta será “muito difícil”.
Será que o PS deve mesmo pedir uma maioria absoluta nas legislativas de 2019? Ou tem receio de o fazer para não subir expectativas sobre uma meta difícil? Ou ainda medo de ferir a suscetibilidade dos parceiros de apoio parlamentar ao governo? O partido divide-se sobre o modo como António Costa deve gerir o caminho para as eleições e o que deve pedir aos portugueses.
“Politicamente não faz muito sentido pedir uma maioria absoluta ao eleitorado. O que o partido deve fazer é explicar as suas posições e o que fez nesta legislatura e verá se os portugueses lhe querem dar essa maioria ”, diz o antigo ministro João Cravinho. E insiste: “Pedir a maioria absoluta é uma estratégia errada, porque as eleições e as campanhas são para dizer o que se quer fazer e assumir compromissos com credibilidade.”
Idêntica posição tem o secretário de Estado das Comunidades, José Luís Carneiro, que se revê na forma como António Costa está a fazer esse caminho até às eleições. “As suas palavras são muito adequadas porque se apresenta ao país com um trabalho realizado, mostrando capacidade de executar”, frisa e inscreve neste sucesso o controlo do défice orçamental, o crescimento económico, o decréscimo do desemprego e os ganhos nas funções sociais do Estado.
“António Costa apresenta-se ao eleitorado com o sentimento de dever cumprido e dará a perceber que o PS deve ter uma maior capacidade política para melhorar a competitividade da economia e o posicionamento do Estado em setores com maior ímpeto reformista”. José Luís Carneiro reforça ao DN que Costa faz isto “sem pressão, sem criar dramas eleitorais”. Até porque considera que um dos principais patrimónios do PS é ser um “partido funcional”, que mantém um diálogo tanto à esquerda como ao centro-direita.
Um jovem socialista, presidente da federação da JS da Guarda, Fábio Pinto, considera que a “maioria absoluta é uma ambição legítima” do partido, mas que se acontecer será “de forma natural” pelo reconhecimento do trabalho que o governo tem desenvolvido. Mais do que apelos, vê que é preciso “manter o trabalho diário e a trajetória seguida”.
Daniel Adrião, o único que se arriscou a candidatar contra António Costa, é o mais taxativo sobre a necessidade de o partido colocar “a fasquia na maioria absoluta”. Porque, diz, “o PS não depende agora dele próprio para governar”. Mas se alcançar essa maioria, “nada impede que procure os consensos mais alargados possível”.
Ascenso Simões foi um dos que pugnaram pela “conquista de uma maioria o mais ampla possível” Daniel Adrião, o único que arriscou candidatar-se contra António Costa, é o mais taxativo sobre o partido colocar “a fasquia na maioria absoluta”