“PCP sempre foi muito prudente”
Na discussão sobre a eutanásia PCP e CDS estão de acordo. Surpreende neste caso? Quando olhamos para esquerda/direita tendemos a subestimar pontos de contacto entre partidos comunistas e partidos conservadores. Os partidos comunistas, como o PCP, têm uma componente nacionalista. São partidos de defesa do capitalismo nacional face à globalização, são partidos defensores da soberania nacional e sob ponto de vista dos valores, como no passado em relação ao aborto, são partidos extremamente prudentes. Porque são partidos que tinham um eleitorado popular que exprimia muitas vezes valores relativamente conservadores nessas áreas. Não é uma questão de religiosidade, mas também de respeito pela religiosidade. Portanto, não me surpreendi muito em relação à eutanásia. Esperava-se um maior distanciamento entre posições do PCP e do CDS. Ou essa prudência explica a sintonia? Essa prudência é fundamentalmente nos valores. E a demarcação é fundamentalmente na esfera económica e social. Para o PCP, o CDS é o partido dos grandes interesses, da economia liberal, da sociedade civil libertada do Estado. Nos últimos anos, houve ali uma dinâmica do PSD que retirou alguma dinâmica antiestatista, se nos lembrarmos das oscilações de Paulo Portas, que ensaiou um CDS entre um modelo mais conservador social e um modelo mais liberal. No campo dos valores, o PCP sempre foi muito prudente e até conservador. Estas causas fraturantes crispam a sociedade portuguesa. Onde é que está essa crispação? É em termos sociais? Há aqui uma clivagem de fundo sobre a qual o PCP sempre foi muito prudente: que é a clivagem religiosa, no sentido daqueles que se declaram católicos praticantes. E esses votam no fundamentalmente à direita e o CDS é um partido privilegiado [por este voto]. O PCP não desencadeia essas causas, pode até apoiá-las, mas nunca as desencadeia. Não foi o PCP que desencadeou este tipo de causas.