A defesa fraquejou e Fernando Santos não gostou: “Não estou contente com isto”
Ofensivamente a equipa das quinas é uma delícia, mesmo sem Cristiano Ronaldo. Lá atrás o problema é para lá de bicudo
Os jogos a doer é que contam, isso é uma grande verdade, mas começam a ser sistemáticas as deficiências que Portugal apresenta no seu reduto defensivo. Assim se explica o empate de ontem com a Tunísia.
Com a estreia absoluta de Rúben Dias e o debute a titular de Ricardo Pereira no lado direito da defesa, os problemas mantiveram-se, e já são sete golos sofridos em quatro encontros diante de seleções pouco credenciadas como Estados Unidos, Egito, Holanda (que não foi ao Europeu e agora também não vai ao Mundial) e Tunísia.
Não vale a pena dourar a pílula: com uma defesa destas, Portugal, o atual campeão europeu em título, arrisca-se a sofrer golos de qualquer seleção que vai marcar presença na Rússia e, dificilmente, poderá aspirar a algo de significativo.
O jogo começou bem para Portugal, com o delicioso meio-campo a dar espetáculo; William atrás do criterioso Adrien e dos dinâmicos Bernardo Silva e João Mário. Na frente, André Silva era a referência, com Quaresma a ter liberdade para fazer o que quisesse, sem pôr em causa os equilíbrios da equipa.
O mesmo Quaresma aos dez minutos falhou um golo feito, mas aos 22’ ofereceu a André Silva, com um cruzamento só ao alcance dos mais sobredotados. Foi o golo mil da história da seleção nacional.
Bernardo Silva e João Mário trocavam as voltas aos tunisinos, William parecia outro, bem diferente daquele que se exibiu no Sporting nos últimos tempos, e os africanos só ganhavam vida nas raras vezes que conseguiam ultrapassar a pressão do meio-campo português. E quando isso sucedeu percebeu-se que Rúben Dias, à procura do melhor entendimento com Pepe, joga- da simples, Ricardo tinha pulmão para ir à frente e atrás mas Raphaël Guerreiro... não está no seu melhor. Portugal não era uma equipa confiante na sua defesa e nem o extraordinário golo de João Mário, aos 34’, desvaneceu essa perceção.
Cinco minutos volvidos, a Tunísia trabalhou bem um lance da direita para a esquerda e, com toda a facilidade do mundo, desposicionou a defesa portuguesa – olhar só para Ricardo é uma injustiça – e Ben Youssef, com um remate seco, não deu hipóteses a Anthony Lopes. Não marcam... sofrem Ao intervalo, Fernando Santos retirou o sofrível Raphaël Guerreiro (12 jogos pelo Dortmund nesta época) e colocou Mário Rui. Não foram percetíveis grandes melhoras, mas a confiança do futebolista do Nápoles é bem diferente da do luso-francês.
Adivinhava-se o terceiro golo de Portugal a qualquer momento. João Mário, por duas vezes, e Bernardo Silva, num remate ao ferro após um lance genial, tiveram tudo para sentenciar a partida. Pode dizer-se que faltou a eficácia de Cristiano Ronaldo, que é preponderante por ser o jogador que é. Mas com o madeirense no onze sabe-se que quem o acompanhar no ataque terá sempre a tendência de levantar a cabeça e procurar o capitão. Ontem não havia essa “diretriz” e as coisas correram bem no último terço de terreno.
Afinal apareceu o segundo golo da Tunísia com José Fonte, que havia rendido Pepe, a pôr em jogo o médio Badri – mas toda a defesa ficou impávida e serena.
Por isso faz todo o sentido acabarmos como começámos; com uma defesa destas será difícil pedir muita coisa a Fernando Santos.
Podemos olhar e perceber que a Tunísia é uma boa seleção, sem dúvida que é. Por alguma razão é a 14.ª do ranking FIFA e não perde desde março de 2017, levando uma série de oito jogos imbatível.
Ainda assim, Portugal tinha a obrigação de vencer a Tunísia e dar bons sinais aos seus adeptos...
“Entrámos a ganhar no jogo, mas deixámo-nos levar pelo resultado e o adversário acabou por conseguir empatar”
ANDRÉ SILVA
AVANÇADO DA SELEÇÃO “Ainda estamos a tempo de corrigir alguns erros. Tivemos oportunidades, mas não conseguimos marcar, temos de melhorar”
JOÃO MÁRIO
MÉDIO DA SELEÇÃO NACIONAL