Tomás Amaral. O rapaz feliz que subiu ao lugar mais alto do pódio
Começou aos 8 anos e após o primeiro treino disse à mãe que queria continuar. Agora é campeão do mundo
NUNO MARTINS NEVES* Quando em 2013, os pais de Tomás Amaral levaram o seu filho (então com 8 anos) pela primeira vez ao treino de ginástica aeróbica no Ginásio Corpore, estariam longe de imaginar que, cinco anos depois, o veriam a subir ao lugar mais alto do Campeonato do Mundo. Certeza teriam de que o jovem micaelense encontrou o seu desporto.
“Lembro-me que quando saí do primeiro treino, disse à minha mãe que queria continuar a fazer ginástica aeróbica”, recorda o agora campeão mundial de individual masculino juvenil, feito inédito no desporto português, alcançado domingo no Pavilhão Multiusos de Guimarães. Agora com 12 anos, Tomás Amaral vê recompensado todo o trabalho e dedicação que colocou no desporto que começou “a praticar depois de ter visto vídeos na internet”. “Gostei muito dos elementos, da expressividade, e quis experimentar”, referiu.
O sucesso agora alcançado pelo jovem não surpreende a sua treinadora de sempre: Alexandra Barroso, técnica do Clube de Actividades Gímnicas de Ponta Delgada (CAGPD) e da seleção nacional, recorda um atleta que aliava as “características psicológicas de superação, dedicação e capacidade de treino, às características físicas, como a força, velocidade, explosividade e flexibilidade, que foi adquirindo rapidamente”.
A capacidade de aprendizagem também foi sublinhada pela experiente técnica micaelense, que realçou ainda a “felicidade que transparece quando atua e que faz que torne fácil a difícil coreografia que executa, o que é digno de um talento inato”.
Talento e dedicação persistem em Tomás Amaral, que realiza cinco treinos semanais, alguns com a duração de quatro horas, fins de semana e feriados incluídos.
“Na ginástica temos uma carga horária de treino muito elevada e muitos dos acontecimentos sociais são colocados de parte. Os atletas que ficaram atrás do Tomás provavelmente também fazem o mesmo. Na Rússia, na Roménia, eles nascem a fazer ginástica, pelo que parece que lhes está no sangue. Ter conseguido ultrapassar essas duas potências da modalidade foi uma dádiva, um milagre, uma felicidade imensa e um motivo de orgulho”, diz Alexandra Barroso. Melhores condições O sacrifício do agora campeão mundial exige uma difícil conciliação com os estudos, algo que o obriga a “estabelecer prioridades” e “a gerir bem o tempo”. Ainda sem saber o que quer seguir nos estudos, Tomás sabe que quer continuar a praticar a modalidade, mesmo que seja dos poucos rapazes a fazê-lo. “Eu faço o que me faz feliz e estou no melhor clube para isso”, diz, de sorriso aberto.
O abraço emotivo entre Tomás e Alexandra após o atleta ter finalizado a sua prestação revelou a cumplicidade de ambos, mas também o culminar de uma vida dedicada à modalidade. Com mais de 25 anos dedicada ao ensino da ginástica aeróbica, “Xali”, como é conhecida, espera que o título mundial traga os dividendos de que necessita.
“Tenho a certeza que depois deste resultado, vamos ter melhores condições”, garante. A treinadora reivindica um espaço específico para o ensino da modalidade, lembrando que Tomás treina numa área oficial de 7x7 metros,
Tomás Amaral sagrou-se campeão do mundo no domingo, em Guimarães quando necessita de um tapete com as dimensões de 10x10: “A ginástica é muito específica, requer colchões montados, paralelas, ‘cogumelos’ para treinar os elementos, o que nem sempre existe. Mas já tenho a informação de que vamos reunir com a Direção Regional do Desporto do governo dos Açores e penso que vamos conseguir.”
Sobre o futuro, Alexandra só deseja que Tomás Amaral “continue feliz e que continue sempre a gostar de fazer ginástica”. “E que com esse gosto e dedicação consigamos levar o nome da ginástica aeróbica cada vez mais longe”, garante. Jornalista do Açoriano Oriental