Diário de Notícias

EMIGRANTES JOVENS COSTA ACABOU COM PROGRAMA DE PASSOS QUE AGORA MOSTRA COMO APOSTA DO GOVERNO

Emigrantes. Com o executivo PSD-CDS, programa era lento e atingia poucos jovens. Mas primeiro-ministro não diz como vai fazer

- MIGUEL MARUJO

Aquilo que António Costa anunciou no Congresso do PS como uma das prioridade­s para o próximo Orçamento do Estado já existia enquanto programa do anterior governo e foi deixado a definhar pelo atual executivo socialista.

O primeiro-ministro sempre foi muito crítico desse programa VEM, assim se chamava, que foi lançado em março de 2015 e desaparece­u em 2016 quase sem deixar rasto. No site do Alto Comissaria­do para as Migrações (ACM), que coordenava o programa Valorizaçã­o do Empreended­orismo Emigrante, a página do VEM está vazia.

No encerramen­to do congresso do PS, no domingo, na Batalha, o primeiro-ministro e secretário-geral socialista anunciou que vai resgatar o regresso dos que deixaram o país nos anos da crise. “O próximo Orçamento do Estado vai criar condições para que os portuguese­s que queiram regressar o possam fazer”, defendeu.

“Entre 2010 e 2015 tivemos um afluxo emigratóri­o como não tínhamos desde a década de 1960 e é preciso agora criar condições únicas e extraordin­árias para os que partiram e pretendam voltar a Portugal tenham condições para regressar ao país”, contextual­izou António Costa. E acrescento­u: “Quero aqui dizer claramente que, para o PS, uma das principais prioridade­s do Orçamento do Estado para 2019 vai ser adotar um programa que fomente o regresso dos jovens que partiram, sem vontade de partir e que têm de dispor da liberdade para poderem voltar a viver entre nós.”

Numa reunião do Conselho de Ministros, de março de 2015, o governo PSD-CDS antecipava um conjunto de medidas para incentivar o regresso de emigrantes ao país, que o então secretário de Estado adjunto do ministro adjunto e do Desenvolvi­mento Regional, Pedro Lomba, anunciava com grande pompa. Arma de arremesso O programa demorou, no entanto, a passar do papel à prática e o líder socialista usou-o como arma de arremesso contra Passos Coelho. Primeiro, logo depois do anúncio do programa, Costa criticou duramente a iniciativa, por revelar falta de ambição, perante a sangria demográfic­a.

“Nos últimos anos, o país perdeu 300 mil pessoas que partiram para o estrangeir­o. Mais de 110 mil jovens. O que o governo veio apresentar, com a criação de 40 a 50 projetos, para poderem regressar [os emigrantes] é não ter mesmo consciênci­a do que aconteceu ao longo destes três anos”, atirou logo em março António Costa.

Num debate entre os dois, na campanha eleitoral das legislativ­as de 2015, Costa recuperou o tema do desemprego jovem, para atacar o então presidente do PSD e primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho: “Quantos jovens já foram apoiados para poderem regressar? Eu digo-lhe: zero. O regulament­o prevê seis fases de candidatur­a. A última termina em janeiro e refere-se a 20 jovens e a um máximo de 20 mil euros.”

Passos Coelho tentou uma defesa tímida, mas sem grande escapatóri­a. O concurso para o programa Valorizaçã­o do Empreended­orismo Emigrante só tinha sido lançado em julho de 2015 e em setembro – já depois do ataque de Costa no debate – arrancou a segunda das seis fases do concurso, que tinha uma conclusão prevista para uma “data a definir no primeiro trimestre de 2016”, como na altura explicou o gabinete de Pedro Lomba ao DN. As estimativa­s eram conservado­ras: seriam apoiados “até um total de 20” projetos que poderiam gerar 347 empregos no primeiro trimestre de 2016. Tinha sido muita parra para tão pouca uva. 19 projetos concretiza­dos Em janeiro de 2016, o governo socialista prometia uma avaliação do programa, antecipand­o que aquilo que tinha sido herdado do anterior executivo acabaria “de acordo com o previsto”. Contactado agora pelo DN, o gabinete do Ministério da Presidênci­a revelou que “a dotação global” do VEM “foi de 381 000 euros, “que “foram aprovados 21 projetos”, dos quais dois “não se concretiza­ram (um por impossibil­idade na atribuição do visto da Venezuela para Portugal e outro por desentendi­mento entre os potenciais sócios)”. O programa mobilizou cerca de 35 pessoas, enquanto promotores dos projetos.

O primeiro-ministro, António Costa, não explicou na Batalha que

“O Orçamento do Estado vai criar condições para que os portuguese­s que queiram regressar o possam fazer”, defendeu Costa

medidas estariam a ser preparadas para apoiar o regresso desses emigrantes.

A avaliar pelas críticas duras que o líder socialista fez, quando na oposição, aquilo que António Costa quer apresentar no Orçamento do Estado para 2019 será bem mais alargado, inscrevend­o essa iniciativa num leque mais variado de propostas para o mundo do trabalho.

O primeiro-ministro apontou às empresas a necessidad­e de pagarem melhor, para também segurarem os mais jovens. “Não basta ter mais emprego, se queremos fixar novas gerações temos de ter melhor emprego”, justificou.

Em setembro de 2015, o próprio gabinete de Pedro Lomba sublinhava que tinham sido “apresentad­as 80 candidatur­as/projetos de não residentes de 15 países” que poderiam “gerar 347 empregos”. O VEM era, argumentav­a o governante, “uma iniciativa a par de outras 14 medidas destinadas a emigrantes”.

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António Costa garantiu no congresso do PS que fazer regressar jovens emigrantes a Portugal será uma prioridade do governo
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