Neste Brasil de camionistas em greve, salada já virou enlatado
“Fatura será elevada”, diz ministro das Finanças, após governo ceder aos grevistas. Parte dos protestos mantém-se
As três exigências dos sindicatos dos camionistas, que desde há uma semana pararam o Brasil, foram publicadas na madrugada de ontem em edição especial do Diário Oficial da República.
Com essas cedências, entre as quais a redução do preço do diesel, o governo liderado por Michel Temer obteve a garantia dos grevistas de que os bloqueios vão parar, embora ao longo de todo o dia de ontem o caos ainda estivesse instalado no país.
O custo das negociações, segundo o Ministério das Finanças, é de perto de dez mil milhões de reais, ou seja, cerca de 2,5 mil milhões de euros, e vai “exigir sacrifícios à população”, referiu o ministro Eduardo Guardia.
Foi a segunda ronda de negociações, depois de na quarta-feira passada, dez das 11 entidades que representam os camionistas já terem aceitado cedências de Temer.
A outra entidade, que representa mais de 700 mil profissionais, no entanto, manteve o bloqueio – o que obrigou o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, a decretar o estado de emergência.
O governo anunciou então a intervenção das forças armadas para desbloquear estradas, mas, revelada insuficiente a sua ação, foi obrigado a ceder mais.
“Agora que está publicado no Diário Oficial, peço aos motoristas que levantem acampamento e sigam a vida deles”, disse José Fonseca Lopes, presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros. “No entanto, para tudo voltar ao normal são necessários ainda uns oito dias”, advertiu.
Todo o país sentiu os efeitos da greve: cidadãos esperaram dentro dos automóveis mais de um dia por gasolina, fruta, legumes e outros bens essenciais não chegaram aos supermercados, 200 fábricas, milhares de escolas e centenas de hospitais fecharam, 11 aeroportos ficaram sem combustível, quase todos cancelaram voos. JOÃO ALMEIDA MOREIRA, São Paulo