Editores de 70 países juntos em Lisboa para debater jornalismo
GEN, sigla de Global Editors Network, é o nome do encontro que traz à capital cerca de 800 profissionais para partilhar informação e experiências num negócio em mudança. A palavra que mais se ouve é inovação
Global Editors Network ou, para simplificar, GEN. A cimeira da rede global de editores toma conta do Pátio da Galé, em Lisboa, hoje, amanhã e sexta-feira. Lá dentro, onde antes se desenhavam caravelas, fala-se de jornalismo, inovação, bots, interferência russa, Donald Trump, fake news e maneiras de tornar o jornalismo melhor.
“Somos uma organização dedicada à inovação no jornalismo. Não nos queixamos de como é difícil o negócio, procuramos novas formas de contar histórias usando a tecnologia”, sintetiza o britânico Peter Bale, presidente da GEN, fundador do WikiTribune, antigo editor da CNN e CEO do Center for Public Integrity, em declarações ao DN.
Um tema central orienta os três dias de conversa: Towards the augmented newsroom, ou se quisermos, em direção a uma redação aumentada. A partir daí, três subtemas orientam as sessões: interrupção (hoje), personalização (amanhã), monetização (sexta-feira). Para cada um foram convidados profissionais do jornalismo, num total de 150 pessoas, segundo a organização.
A primeira de todas as conferências, no palco principal, vem falar de inteligência artificial (IA), uma das maiores preocupações do setor. A partir das 14.00 perguntase: “A inteligência artificial é boa ou má para as nossas sociedades e as nossas democracias? Qual será o seu impacto para os produtores de conteúdos?” Os oradores convidados são Antoine Bordes, diretor do Laboratório Europeu de Investigação de Inteligência de Facebook, e Ariel Conn, diretora de media do Life Institute.
Meia hora depois, o tema são bots: “Robolution – The 50 shades of news bots” (As 50 sombras dos geradores de notícias). Começaram a aparecer em 2015 e podem ser úteis, dizem John Keefe, gestor de produtos para aplicações da Quartz, um projeto que nasceu online, e o jornalista da BBC Paul Sargeant. “A inteligência artificial é um dos grandes assuntos que nos preocupam”, defende Peter Bale. “Vamos ter a Reuters, que está a usar muito a tecnologia para falar”, diz, a título de exemplo, o presidente da GEN. E se estas tecnologias surgem habitualmente associadas a práticas negativas como as fake news, Bale explica que a agência de notícias está a usá-la para detetá-las. “Porque um dos desafios do jornalismo é a confiança.” Os participantes de 80 países Cerca de 800 editores vão estar em Lisboa para ouvir oradores que vêm da academia, profissionais da análise de audiências, dos laboratórios do Facebook e do Google, repórteres de televisão, da imprensa escrita, da rádio e dos podcasts ou de coletivos de investigação como o ICIJ – International Consortium of Investigative Journalist.
O segundo dia é dedicado à personalização, e aos desenvolvimentos da realidade virtual, enquanto no derradeiro dia de trabalhos falar-se-á dos diferentes modelos de negócio a funcionar no mundo. “The Washington Post: organização de media, empresa tecnológica – um modelo para a indústria dos media é o título da conferência da diretora executiva do Diário de Notícias, Catarina Carvalho (sexta-feira, 15.20-16.00). Guerra às fake news Fake news e a sua propagação são assunto central em qualquer debate que envolva jornalismo e confiança, em tempos de Donald Trump, comenta Peter Bale, ele próprio orador de uma conferência: “Ganhar a guerra ao jornalismo” (quinta-feira, às 14.30). “A mentira é mais rápida do que a verdade, é mais apelativa”, sustenta o jornalista, referindo dois obstáculos adicionais: “Um presidente que aplaude ataques a jornalistas ou a Rússia a interferir deliberadamente na liberdade de uma sociedade democrática.” Remata o britânico: “É preciso continuar a lutar pela confiança.”
O discurso de Peter Bale pode parecer pessimista neste ponto, mas dá a volta: “Podemos alcançar uma audiência que não existia antes graças à tecnologia.” Usa o caso de Portugal para o demonstrar: um jornal em Portugal pode chegar a Moçambique, Angola, Brasil... “A cimeira é sobre todas as oportunidades que a internet dá.”
“Podemos alcançar uma audiência que não existia antes graças à tecnologia”, diz o presidente da Global Editors Network, Peter Bale