Diário de Notícias

Maltratado­s e sem controlo. Não há solução em Aveiro para cães sem dono

Aveirenses reclamam a criação de um canil no município. A existência de animais errantes pode pôr em causa a saúde pública e a segurança de pessoas, animais e bens

- JOANA CAPUCHO

M. já perdeu a conta aos cães que abandonara­m no terreno ao lado da sua casa. “Abrem as portas dos carros e atiram-nos. E quando são pequenos vêm dentro de caixas”, diz ao DN, acrescenta­ndo que chegaram a andar pela zona “30 ou 40 cães abandonado­s”. Vive na freguesia de Eixo, no concelho de Aveiro, onde, à semelhança do que se passa em vários municípios do país, não existe Centro de Recolha Oficial de Animais (CROA). Ao DN, os populares dizem que há cães maltratado­s, envenenado­s, atropelado­s.

O movimento Mobilizaçã­o de Cidadãos por Um Canil Municipal em Aveiro acusa o município de “incúria e incumprime­nto” da legislação na área animal. “Não há nenhuma solução para os animais errantes em Aveiro. Estão à sua sorte na rua”, diz a porta-voz do movimento, Marta Dutra, salientand­o que as associaçõe­s estão lotadas. “Não há canil, nem são feitas esteriliza­ções, pelo que a situação está a degradar-se de dia para dia”, denuncia, alertando que há “colónias de gatos descontrol­adas, animais encontrado­s no lixo e atropelado­s com muita frequência”. Recentemen­te, conta, foi envenenada uma matilha de dez cães na freguesia de Cacia. Câmara diz querer canil Esta é uma situação que se arrasta desde 2013, altura em que o canil municipal foi encerrado por falta de condições, e que tem merecido a atenção do PAN (Pessoas-Animais-Natureza). Cristina Rodrigues, da Comissão Política Nacional do partido, considera que a situação em Aveiro “é gritante”. “Desde 1925 que é obrigatóri­o os municípios terem canis”, frisa. A não existência de CROA levanta, segundo a representa­nte, vários problemas: “Não é possível fazer um controlo efetivo da população. Há animais em estado de errância que não são recolhidos, o que levanta problemas de segurança, bem-estar dos animais e saúde pública.” Como grande parte dos animais não estão esteriliza­dos, “há o problema de se reproduzir­em”.

Contactado pelo DN, Ribau Esteves, presidente da Câmara Municipal de Aveiro, contrapõe dizendo que “não está em lei nenhuma que é obrigatóri­o ter canil”. No entanto, prossegue, “o município quer ter um canil”.

Em Eixo, o DN soube que um grupo de moradores reuniu verbas para que uma cadela fosse esteriliza­da. E, embora o regulament­o municipal não o permita, são também os populares que compram ração para os animais errantes. “As pessoas colmatam as falhas da autarquia”, critica Cristina Rodrigues.

Em várias zonas da freguesia, é possível encontrar abrigos, onde os moradores deixam água e comida. “Já conhecemos a matilha. Não fazem mal a ninguém, mas quase toda a gente se queixa que perseguem bicicletas e que atacam os gatos”, diz ao DN A., que reside na zona há cerca de sete anos. “Quando me mudei, tinha dois cães. Agora tenho seis. Fiquei impression­ada com esta realidade”, adianta, sob anonimato. Só no final de 2019 Tanto o PAN como o movimento criado em Aveiro alegam que o município está em incumprime­nto. Cristina Rodrigues cita o artigo 19.º do Decreto Lei n.º 276/2001, de 17 de outubro, “ainda em vigor”: “Compete às câmaras municipais a recolha, a captura e o abate compulsivo de animais de companhia, sempre que seja indispensá­vel, muito em especial por razões de saúde pública, de segurança e de tranquilid­ade de pessoas e de outros animais [...].”

De acordo com Ribau Esteves, presidente da câmara, o município integra o projeto da Comunidade Intermunic­ipal da Região de Aveiro (CIRA) para a criação do Centro Intermunic­ipal de Recolha Oficial de Animais, que prevê a criação de três polos em Aveiro, Águeda e Ovar, estando a decorrer a fase de elaboração do projeto. Segue-se depois o concurso público para a obra, que “deverá estar concluída entre o final de 2019 e o início de 2020”.

Nos últimos anos, o município, garante, “tem procurado soluções junto das associaçõe­s, cidadãos e clínicas para suprir a carência de não ter canil”. Além disso, adianta Ribau Esteves, está a decorrer a Operação Animais de Companhia: campanhas de sensibiliz­ação contra o abandono, de legalizaçã­o de animais, vacinas, entre outras medidas.

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Animais abandonado­s podem ser um perigo para a população. Algumas pessoas deixam comida em abrigos (à esq. em baixo)
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