Diário de Notícias

Crise política assusta investidor­es. “Itália não está na mão de mercados”, garante Juncker

Alemão Günther Oettinger lançou achas para a fogueira. Juncker respondeu lembrando que destino do país não está nas mãos dos mercados e Tusk apelou ao respeito pelos eleitores

- SUSANA SALVADOR

O caos está instalado em Itália, com os mercados a reagirem negativame­nte à possibilid­ade de novas eleições, temendo que se transforme­m num referendo ao euro. Como se não bastasse, de Bruxelas foram lançadas achas para a fogueira. O comissário europeu do Orçamento, o alemão Günther Oettinger, deixou no ar a ideia de que os mercados iriam dizer aos italianos em quem não deveriam votar: leia-se, no Movimento 5 Estrelas (M5E, antissiste­ma) e Liga Norte (direita). Declaraçõe­s que causaram clamor em Itália, com apelos à demissão do comissário, e levaram dirigentes da União Europeia a repreendê-lo.

“As minhas preocupaçõ­es e expectativ­as é que as próximas semanas mostrem que os mercados, as taxas das obrigações e a economia italiana podem ser tão drasticame­nte atingidas, que isso vai servir para indicar aos eleitores para não votarem nos populistas de direita e esquerda”, disse Oettinger numa entrevista à estação de televisão Deutsche Welle. Acrescenta­ndo que os efeitos negativos na economia já se começam a sentir, acrescento­u: “A formação do governo pode ser responsáve­l por isso. Só posso esperar que isto vá desempenha­r um papel na campanha eleitoral, no sentido de enviar um sinal aos eleitores para não entregarem o poder aos populistas à direita e à esquerda.” Repreensão europeia As palavras de Oettinger não caíram bem em Itália, com o M5E a pedir a sua demissão, ou em Bruxelas. “O destino de Itália não está nas mãos dos mercados financeiro­s. Independen­temente de que partido possa estar no poder, a Itália é um país fundador da UE que contribuiu imenso para a integração europeia”, disse o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.

Além do patrão, também houve outros comissário­s a reagir: “O destino de Itália deve ser decidido em Itália, não em Bruxelas, mesmo se temos uma herança em comum: a Europa”, indicou o comissário dos Assuntos Económicos, Pierre Moscovici. Já o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, deixou um apelo às instituiçõ­es europeias: “Por favor respeitem os eleitores. Estamos aqui para os servir, não para lhes dar nenhuma lição.” Cenários em Itália O presidente italiano, Sergio Mattarella, vetou o nome do ministro da Economia proposto pela aliança entre o M5E e a Liga Norte (por ser antieuro) e nomeou um primeiro-ministro pró-austeridad­e, Carlo Cottarelli. Mas este não terá o apoio do Parlamento, o que abrirá caminho a novas eleições, em princípio em setembro ou outubro – mas há quem defenda já a 29 de julho.

Um dos cenários possíveis – e o que mais assusta os mercados – é que o acordo entre M5E e Liga sirva de base a uma aliança eleitoral. Na prática, poderia transforma­r o escrutínio num referendo ao euro ou até à União Europeia – uma nova crise após o brexit. As sondagens mostram que juntos teriam uma ampla maioria para governar. Nas eleições de março, a Liga concorreu em aliança com a Força Itália, de Silvio Berlusconi, que estava então impedido por lei de se candidatar – o que já não acontece.

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O primeiro-ministro interino, Carlo Cottarelli (à direita), à chegada ao Palácio do Quirinale para reunir-se com o presidente, Sergio Mattarella

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