Crise política assusta investidores. “Itália não está na mão de mercados”, garante Juncker
Alemão Günther Oettinger lançou achas para a fogueira. Juncker respondeu lembrando que destino do país não está nas mãos dos mercados e Tusk apelou ao respeito pelos eleitores
O caos está instalado em Itália, com os mercados a reagirem negativamente à possibilidade de novas eleições, temendo que se transformem num referendo ao euro. Como se não bastasse, de Bruxelas foram lançadas achas para a fogueira. O comissário europeu do Orçamento, o alemão Günther Oettinger, deixou no ar a ideia de que os mercados iriam dizer aos italianos em quem não deveriam votar: leia-se, no Movimento 5 Estrelas (M5E, antissistema) e Liga Norte (direita). Declarações que causaram clamor em Itália, com apelos à demissão do comissário, e levaram dirigentes da União Europeia a repreendê-lo.
“As minhas preocupações e expectativas é que as próximas semanas mostrem que os mercados, as taxas das obrigações e a economia italiana podem ser tão drasticamente atingidas, que isso vai servir para indicar aos eleitores para não votarem nos populistas de direita e esquerda”, disse Oettinger numa entrevista à estação de televisão Deutsche Welle. Acrescentando que os efeitos negativos na economia já se começam a sentir, acrescentou: “A formação do governo pode ser responsável por isso. Só posso esperar que isto vá desempenhar um papel na campanha eleitoral, no sentido de enviar um sinal aos eleitores para não entregarem o poder aos populistas à direita e à esquerda.” Repreensão europeia As palavras de Oettinger não caíram bem em Itália, com o M5E a pedir a sua demissão, ou em Bruxelas. “O destino de Itália não está nas mãos dos mercados financeiros. Independentemente de que partido possa estar no poder, a Itália é um país fundador da UE que contribuiu imenso para a integração europeia”, disse o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.
Além do patrão, também houve outros comissários a reagir: “O destino de Itália deve ser decidido em Itália, não em Bruxelas, mesmo se temos uma herança em comum: a Europa”, indicou o comissário dos Assuntos Económicos, Pierre Moscovici. Já o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, deixou um apelo às instituições europeias: “Por favor respeitem os eleitores. Estamos aqui para os servir, não para lhes dar nenhuma lição.” Cenários em Itália O presidente italiano, Sergio Mattarella, vetou o nome do ministro da Economia proposto pela aliança entre o M5E e a Liga Norte (por ser antieuro) e nomeou um primeiro-ministro pró-austeridade, Carlo Cottarelli. Mas este não terá o apoio do Parlamento, o que abrirá caminho a novas eleições, em princípio em setembro ou outubro – mas há quem defenda já a 29 de julho.
Um dos cenários possíveis – e o que mais assusta os mercados – é que o acordo entre M5E e Liga sirva de base a uma aliança eleitoral. Na prática, poderia transformar o escrutínio num referendo ao euro ou até à União Europeia – uma nova crise após o brexit. As sondagens mostram que juntos teriam uma ampla maioria para governar. Nas eleições de março, a Liga concorreu em aliança com a Força Itália, de Silvio Berlusconi, que estava então impedido por lei de se candidatar – o que já não acontece.