Diário de Notícias

Empresas alemãs já são o maior empregador em Portugal depois do Estado Angela Merkel chega hoje ao Porto, onde vai visitar a Bosch, seguindo depois para Braga num dos Volkswagen feitos na Autoeuropa. No total, há por cá 400 companhias alemãs, com uma fatu

- ANA SANLEZ

Foi em 2016 que Mathias Renninger trocou a Francónia pelo país “onde se vive de improviso”. Os últimos anos foram passados no centro tecnológic­o da Bosch em Braga a liderar uma equipa que cria software para carros autónomos. No final de agosto, Mathias estará outra vez de malas aviadas para a Alemanha. Quando lá chegar, poderá dizer que foi em Portugal que conheceu Angela Merkel. É no novo centro tecnológic­o da Bosch em Braga que arranca hoje a visita de dois dias da chanceler alemã a Portugal.

Quando Mathias Renninger chegou a Braga, juntou-se a uma equipa com poucas dezenas de trabalhado­res qualificad­os. Hoje, 240 milhões de euros de investimen­to depois, já tem mais de 250 colegas. Até ao final do ano deverão ser 400. Ao todo, a Bosch emprega cerca de 4450 pessoas em Portugal. É uma das empresas que contribuír­am para que a Alemanha seja um dos maiores empregador­es do país, logo a seguir ao Estado. Só as cinco maiores empresas alemãs dão trabalho a 20 mil trabalhado­res (ver infografia). “Os dados oficiais revelam que as empresas alemãs são responsáve­is por cerca de 35 mil empregos diretos em Portugal, mas sabemos que são mais. Calculamos que sejam aproximada­mente 50 mil. A estes juntam-se os empregos indiretos, que não conseguimo­s quantifica­r, porque muitas indústrias alemãs têm fornecedor­es locais”, explica ao DN/Dinheiro Vivo Hans-Joachim Böhmer, diretor executivo da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã (CCILA).

Em 2016, as 400 empresas alemãs que operam em Portugal registaram um volume de negócios próximo dos dez mil milhões de euros. Quase metade desse valor resultou de vendas para o estrangeir­o.

Mas o que procuram afinal os alemães em Portugal? “Sobretudo a qualidade dos recursos humanos, em particular na área da engenharia”, sublinha Miguel Franco, presidente do conselho diretor da CCILA. “Destaca-se também o excelente domínio das línguas estrangeir­as, uma boa rede de infraestru­turas, o elevado nível de segurança, a estabilida­de política e a boa abertura que Portugal sempre teve ao investimen­to estrangeir­o. A ligação das empresas alemãs a Portugal é de longa data. Já nas décadas de 1970 e 1980 vieram para cá em força. Muitas ficaram e hoje estão a investir fortemente, como a Bosch, a Continenta­l Mabor ou aVolkswage­n, que é provavelme­nte um dos maiores investimen­tos estrangeir­os de Portugal”, destaca.

Mas ao contrário do que acontecia no século passado, o investimen­to alemão em Portugal começou a esmorecer nas últimas décadas. “Com a queda do Muro de Berlim, Portugal saiu um bocadinho do radar das empresas alemãs. A CCILA está a tentar reativar o nome do país na Alemanha e já vemos alguns efeitos. A Eberspäche­r abriu uma fábrica em Tondela, no ano passado, e criou 550 empregos”, afirma Miguel Franco.

Para Hans-Joachim Böhmer, o século XXI está a criar um novo paradigma nas relações comerciais entre os dois países. “Os exemplos da Bosch ou da Mercedes, com o Delivery Hub, são muito emblemátic­os. O investimen­to alemão era muito industrial mas as empresas que vêm agora trazem mais conhecimen­to e tecnologia. E escolhem Portugal porque há engenheiro­s e informátic­os que conseguem satisfazer as exigências alemãs. Essas empresas sabem que em Portugal o produto vai ser feito tal como seria na Alemanha, com qualidade. E no mercado do desenvolvi­mento de software não há os custos de transporte. É uma grande oportunida­de para Portugal.”

O grande desafio do país nos próximos anos, sublinham os dois responsáve­is, será alimentar a fome alemã com mão-de-obra qualificad­a suficiente. “As empresas procuram talento, mas é preciso que ele exista”, diz Miguel Franco. Na escola de qualificaç­ão profission­al da CCILA, a taxa de empregabil­idade é de 95% e o sucesso tem sido “extremos”, diz. De lá saíram profission­ais para a fábrica das máquinas fotográfic­as Leica, em Famalicão. “E eles não podiam estar mais satisfeito­s. Dificilmen­te terão a mesma qualidade noutros países”.

Existem 400 empresas alemãs em Portugal com um volume de negócios próximo dos dez mil milhões de euros por ano

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