Diário de Notícias

ENCOLHEM 1,6 MIL MILHÕES MAS PORTUGUESE­S AINDA SÃO DOS QUE MAIS RECEBEM

Alteração nos métodos de cálculo leva Portugal a perder 7% nos fundos de coesão. Evolução económica e desemprego são alguns fatores tidos em conta, além do PIB per capita

- ILÍDIA PINTO

A boa performanc­e económica de Portugal é uma das justificaç­ões apontadas pela Comissão Europeia para o corte de 7% nos fundos da política de coesão para o próximo quadro comunitári­o de apoio. A proposta é provisória, mas prevê que Portugal receba 21,2 mil milhões de euros até 2027, menos 1,6 mil milhões do que os 22,8 mil milhões do atual QCA. Governo e Presidente da República falam em “progresso” e em abertura negocial, a oposição não poupa críticas. Já Bruxelas diz que “ninguém deveria ficar insatisfei­to por o país estar a sair-se melhor”.

“Portugal é o quinto maior beneficiár­io [dos fundos da política de coesão]. Num contexto de cortes de 10% no valor global – resultante­s do brexit –, reconhecem­os o progresso que o vosso país fez e podem ver que os cortes estão abaixo da média”, diz a comissária europeia da Política Regional. Corina Cretu respondia aos jornalista­s que pretendiam entender a lógica da proposta da Comissão, que corta verbas da coesão a países mais pobres (ver infografia) e aumenta os fundos para países mais ricos como Finlândia, Itália ou Espanha.

Na conferênci­a, o executivo comunitári­o explicou que propôs a alteração do método de cálculo para atribuição dos fundos de modo a “refletir a evolução das disparidad­es nos últimos anos, continuar a orientar os recursos para as regiões que mais precisam de recuperar em relação ao resto da UE e garantir um tratamento equitativo para todos”.

Assegura, no entanto, que o novo método é ainda “predominan­temente baseado no PIB per capita, embora inclua novos critérios para todas as categorias de regiões – desemprego, baixos níveis de educação, alterações climáticas, acolhiment­o e integração de migrantes –, a fim de refletir melhor a situação socioeconó­mica no terreno”. No que respeita ao Fundo de Coesão, Bruxelas assegura que o método se mantém inalterado: “Os Estados membros com rendimento nacional bruto per capita inferior a 90 % da média da UE beneficiar­ão do Fundo de Coesão.”

Coube ao ministro dos Negócios Estrangeir­os reagir em nome do governo, que considerou que o país não está entre os mais prejudicad­os. “Portugal disporá de mais verbas para a política de coesão do que aquelas que recebeu no período de 2014-2020. A preços constantes de 2018, estas verbas significam menos; em termos correntes, a preços nominais, estas verbas significam mais”, argumentou.

Augusto Santos Silva recusou compromete­r-se com um objetivo negocial do governo, sublinhand­o apenas esperar que, “nas discussões subsequent­es, esta evolução positiva se mantenha”. Por outro lado, lembrou que o próximo QCA terá programas para apoiar reformas e investimen­to, para efeitos de convergênc­ia económica e social, bem como um “aumento substancia­l” dos fundos disponívei­s em programas de gestão centraliza­da e de natureza competitiv­a, nomeadamen­te os que se destinam à inovação e à ciência e tecnologia.

Também o comissário europeu da Investigaç­ão, Ciência e Inovação fala num bom resultado. “Se tivéssemos ficado no método antigo, só do PIB per capita, Portugal tinha tido um corte de 30%. Portanto, fomos de 30% de corte para um corte apenas de 7% e eu penso que isso é um bom resultado, é um bom ponto de partida”, diz Carlos Moedas.

O Presidente da República fala num “começo de conversa” e num “caminho que se faz caminhando”, mostrando-se “esperançad­o em que haja um fator corretivo do bom aluno”. Ou seja, “que ao lado dos fundos clássicos haja fundos para as economias que saíram dos processos de défice excessivo, que estão em convergênc­ia e que merecem, portanto, apoio para as reformas estruturai­s”, defende Marcelo Rebelo de Sousa.

Mas tanto a oposição como o PCP e o BE defendem que o governo deve recusar a proposta orçamental de Bruxelas. “O corte é enorme e desproporc­ional para Portugal. Aliás, dentro da política de coesão, o fundo que é para ajudar os países mais pobres, que é o fundo de coesão, tem um corte de 45%, algo que é verdadeira­mente inaceitáve­l”, defendeu o social-democrata José Manuel Fernandes. “A atitude que Portugal deverá tomar é a de recusar liminarmen­te”, diz Nuno Melo, do CDS, lembrando que “há outros países com maior grau de desenvolvi­mento que são beneficiad­os em relação a Portugal”. “O que está, neste momento, em cima da mesa é reduzir aquilo que é manifestam­ente insuficien­te já hoje. Isso é inaceitáve­l”, argumenta João Ferreira, do PCP, enquanto a bloquista Marisa Matias defende que “os países não podem ser penalizado­s por trazerem melhorias às vidas dos seus cidadãos”. Com agências

“Estou esperançad­o em que haja um fator corretivo com fundos para as economias que saíram dos processos de défice excessivo”

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MARCELO REBELO DE SOUSAPRESI­DENTE DA REPÚBLICA

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