Diário de Notícias

Stacey Kent “Com uma orquestra em palco é sempre uma surpresa”

A cantora Stacey Kent está de regresso a Portugal para uma minidigres­são nacional de quatro dias. Vai apresentar o álbum I Know I Dream e o primeiro concerto é hoje em Lisboa, no CCB

- MIGUEL JUDAS

Apesar de contar com mais de duas décadas de carreira, foi a primeira vez que a cantora americana Stacey Kent gravou com uma orquestra, cumprindo assim “um sonho antigo”, como revela na entrevista ao DN. Por cá, a cantora americana terá em palco a companhia da Orquestra Filarmonia das Beiras, com a qual irá interpreta­r não só os temas do novo disco, I Know I Dream, mas também outras canções, já tornadas em clássicos pela sua voz. O título deste disco fala em sonhos, pode-se dizer que este disco é para si a concretiza­ção de um sonho? Sim, totalmente. Eu adoro o título do disco por muitas razões, mas especialme­nte por ser também o nome de uma canção lindíssima, escrita de propósito para mim pelo meu marido, Jim, e por Cliff Goldmacher. É uma canção que fala de esperança, de uma forma um pouco melancólic­a, tal como eu sou e, portanto, tem tudo que ver comigo. É uma sensação inexplicáv­el ter as pessoas, que melhor me conhecem e me amam, a fazer música para mim. Por outro lado, também queria muito usar a palavra sonho no título do disco, porque para mim, enquanto cantora, era o sonho total, poder gravar um álbum com uma orquestra. Continuo a ser a Stacey Kent, que canta e gosta de contar histórias através da música, mas fazê-lo com todas as cores e harmonias que uma orquestra nos possibilit­a é algo muito especial. Desde sempre soube que um dia faria um disco assim, só não sabia quando e como, era um sonho, lá está… E como surgiu esta oportunida­de? Foi a editora Sony Music que me pediu. Foi um convite que surgiu na altura certa, porque não podia estar mais preparada. Aliás, há muito tempo que eu e o Jim falávamos sobre isto. Tínhamos muitas ideias por explorar sobre novos ritmos e uma longa lista de canções que gostaria de gravar com orquestra. A maior parte do trabalho estava feito. Porque é que é tão especial para si cantar com uma orquestra? Por causa da riqueza da harmonia e das imagens que se conseguem criar. É uma sensação quase cinemática, sinto-me como se estivesse dentro de um filme, quando canto com uma orquestra. Foi por isso que escolhi estas canções, porque têm um lado muito visual que é destacado pela orquestra. E como foi trabalhar em estúdio com uma orquestra de 58 músicos? Foi a mesma coisa de sempre, mas de uma forma completame­nte diferente (risos). Acima de tudo temos de estar muito concentrad­os, talvez até um bocadinho mais do que o habitual, porque há alguns arranjos em que o ritmo muda num momento específico e tenho de estar atenta para o acompanhar, para estarmos ambos, eu e a orquestra, no mesmo sítio. Por exemplo, há uma canção neste disco, The Changing Lights, que também costumo cantar com o meu quinteto. Quando estou com eles em palco, consigo contar a história já quase sem pensar nela, mas com a orquestra tenho de estar muito mais focada. Por outro lado, também não foi assim tão estranho, porque os arranjos foram feitos especialme­nte para mim, de modo a que possa contar as histórias a partir da harmonia sem perturbar tudo o resto. Num certo sentido, é exatamente a mesma coisa que sempre fiz com o meu quinteto, mas desta vez com 58 pessoas atrás de mim (risos). E sente essa responsabi­lidade? Sim, sobretudo uma responsabi­lidade muito grande, não só pelos músicos mas também para com a editora, que manifestou uma enorme confiança em mim. Quando me convidaram para fazer este disco nem pensei duas vezes, era um sonho antigo e respondi logo que sim. E quando lhes perguntei o que pretendiam, simplesmen­te respondera­m que queriam um disco da Stacey Kent. Ou seja, foi uma grande prova de confiança, que me obrigava a fazer tudo bem, por mim e por eles. Qual foi o critério de escolha para o repertório deste disco? Ficou logo definido que metade do disco seria composto por versões e a outra metade por temas compostos para mim. A partir daí foi só recorrer à tal lista de canções que um dia gostaria de cantar com uma orquestra. Por exemplo, Double Rainbow e as versões de Avec les Temps, de Leo Ferré, ou Para Dizer Adeus, de Edu Lobo: Apesar de já as ter tocado ao vivo, nunca antes tinham sido gravadas, porque estavam reservadas para este momento. E depois há temas como The Changing Lights, que o Jim escreveu para mim e gravei em 2013, para o álbum com o mesmo nome. Logo na altura comentei que, um dia, não sabia quando, tinha de a gravar novamente com uma orquestra. Cada canção tem a sua história e por isso fiquei tão feliz quando a editora me deu liberdade total para escolher o repertório para o disco, porque assim tive oportunida­de de explorar vários ritmos e emoções. E estes espetáculo­s em Portugal também são com uma orquestra… Sim, mas o melhor é que não vamos apenas tocar os temas deste disco, mas acrescenta­r outras canções. É um espetáculo muito maleável, que pode ser levado por diferentes caminhos e conseguir ter essa liberdade. Com uma orquestra em palco é sempre uma surpresa para mim e para o público e torna este concerto muito interessan­te. Como é que a Stacey Kent de há 20 anos, quando começou a cantar nos bares de Londres, olharia para esta artista de agora, com milhões de discos vendidos e nomeada para um Grammy? Nunca penso muito em termos de passado ou de futuro, mas a verdade é que cantar é como estar numa constante terapia, porque estamos sempre a interpreta­r-nos a nós próprios, o que também nos pode enlouquece­r (risos). O que posso dizer é que a minha sensibilid­ade não mudou nada. Sou exatamente a mesma miúda que aprendeu a gostar de música a ouvir o piano da minha mãe. O que me atraiu então para a música é o mesmo que me atrai hoje, a simplicida­de e a sensibilid­ade.

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