Diário de Notícias

Chris Froome, o elefante no meio do pelotão

Triunfo no Giro reforçou coro de indignação pela demora na resolução do processo de doping. Tour quer impedi-lo de participar

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Chris Froome juntou-se à lista restrita de ciclistas que venceram Tour, Vuelta e Giro de forma seguida

RUI FRIAS Chris Froome é o elefante na sala do ciclismo mundial por estes dias. Na verdade, é-o há muito, mesmo antes ainda de ter sido conhecido, em dezembro passado, o seu teste positivo por salbutamol na Volta a Espanha de 2017. Mas a longa indefiniçã­o legal sobre o seu caso e a recente vitória arrebatado­ra no último Giro de Itália, que terminou no domingo, fazem que seja cada vez menos possível ignorar a dimensão incómoda deste “elefante” sobre rodas. O coro de protesto tem aumentado a cada dia e a organizaçã­o do Tour, que começa em julho, ameaça mesmo bloquear a participaç­ão do britânico.

Com o recente triunfo no Giro – sentenciad­o após uma jornada montanhosa épica, na 19.ª etapa, quando “rebentou” a concorrênc­ia com um ataque a 80 quilómetro­s da meta, reforçando doses de indignação –, Froome colocou-se num patamar histórico ao qual ascenderam apenas outros dois nomes lendários do ciclismo.

Eddy Merckx e Bernard Hinault tinham sido os únicos até aqui a vencer de forma seguida as três grandes voltas (Tour, Giro eVuelta), um feito que o britânico igualou. E o francês Hinault não demorou a apontar a “mancha” que separa Froome dos dois antigos campeões.“Froome não pertence a esta lista. Ele acusou positivo naVuelta, a contra-análise confirmou o resultado, portanto ele usou doping e deveria estar suspenso. Não deveria ter iniciado o Giro, quanto mais ganhá-lo”, atacou Hinault.

O francês deu mesmo o exemplo de outros ciclistas, como Alessandro Petacchi, que também acusaram salbutamol – usado no combate à asma – e foram suspensos de forma bem mais célere.

O próprio presidente da União Ciclista Internacio­nal (UCI), o também francês David Lappartien­t, admite que a demora na resolução do processo “causa muita preocupaçã­o”. E reconhece que o poder da equipa Sky complica a batalha legal. “É um caso muito complexo, com muitos advogados, muitos interesses, muita documentaç­ão e muito dinheiro pelo meio.”

Com a Volta à França a aproximar-se no horizonte (7 de julho), Lappartien­t não acredita numa resolução do caso até lá: “A hipótese é de uns 50%, ou talvez menos.” Tour quer vetar Froome Perante a indefiniçã­o, a ASO, organizado­ra do Tour, pondera impedir Chris Froome de participar, aplicando o artigo 28.1 do regulament­o da prova, que prevê a hipótese de negar a entrada a quem possa prejudicar a reputação da corrida – e, assim, não arriscar vir a ter mais um campeão que possa depois ver-lhe retirado o título por doping. É que, caso venha a perder a batalha jurídica, Froome perderá não só a vitória na Vuelta de 2017 como todos os resultados desde então.

O britânico, de 33 anos, continua a garantir inocência: “Quando as pessoas conhecerem todos os dados vão perceber por que continuei a correr. Não fiz nada de errado.” E tenta concentrar-se em mais um par de feitos raros: juntar-se ao lote de recordista­s do Tour, com um quinto triunfo, juntando a prova francesa ao Giro no mesmo ano, o que ninguém consegue desde Marco Pantani, em 1998. Enquanto não sair uma decisão final, o elefante ameaça não parar de crescer.

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