Chuva e menos carros fizeram abrandar o crescimento
Primeiro trimestre. As exportações desaceleraram mais do que as importações e o investimento em construção travou a fundo, diz o INE
“Os elevados níveis de precipitação” registados no mês de março podem ter atrasado muitas obras em Portugal e isso terá tido um efeito negativo sobre a dinâmica de investimento, o que ajuda a explicar parte do abrandamento da economia, diz o Instituto Nacional de Estatística (INE).
Ontem, no destaque divulgado com os resultados completos das contas nacionais relativas ao primeiro trimestre deste ano, o INE acrescenta ainda que as famílias residentes estão a gastar menos dinheiro na compra de veículos automóveis, o que tirou um pouco de gás ao consumo privado. Em todo o caso, as despesas totais familiares até aceleraram.
“O produto interno bruto (PIB) registou no primeiro trimestre de 2018 uma taxa de variação homóloga de 2,1% (2,4% no trimestre anterior)”, confirmou o instituto.
O valor é igual ao estimado há quinze dias e é o registo mais fraco em ano e meio. A projeção do governo para o crescimento anual é de 2,3% e ainda está ao alcance.
Segundo o INE, “a procura externa líquida apresentou um contributo mais negativo para a variação homóloga do PIB, passando de -0,1 pontos percentuais (p.p.) no 4º trimestre para -0,4 p.p., tendo as exportações de bens e serviços desacelerado mais que as importações”.
Já a economia doméstica ajudou a compensar o enfraquecimento do comércio externo. “O contributo da procura interna aumentou ligeiramente para 2,6 p.p., refletindo a ligeira aceleração do consumo final e do investimento”, diz.
A expansão homóloga do consumo privado ganhou uma décima face ao registo de final de 2017, atingindo 2,1% neste arranque de ano. O ritmo do consumo público subiu na mesma proporção, mas ficou-se por 0,3%.
O INE repara, por exemplo, que as despesas das famílias em bens perecíveis ganharam força, mas que os gastos em bens duradouros “abrandaram para uma variação homóloga de 2,8% (4,5% no 4º trimestre) devido à diminuição verificada na componente automóvel, uma vez que a componente de outros bens duradouros registou um crescimento mais intenso”.
No capítulo do investimento, a evolução foi positiva (6,6%), mas deveu-se essencialmente a valorizações contabilísticas de materiais em stock (armazenados). Ela “foi determinada pelo comportamento da variação de existências”.
Expurgando este efeito, a formação bruta de capital fixo (FBCF) abrandou, devido, sobretudo, à componente da construção. Estava a crescer 5,9% em termos homólogos na reta final do ano passado e nos primeiros três meses deste ano aligeirou até aos 4,7%.
“O abrandamento da FBCF total resultou, em grande medida, do crescimento menos intenso” da subcomponente construção, “que passou de uma variação homóloga de 7,9% no 4º trimestre para 2,3%”.
Como referido, o INE diz que pode ter sido culpa do tempo. “Refira-se que em março se registaram elevados níveis de precipitação, o que poderá ter condicionado a atividade de construção.”
De facto, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), “o valor médio da quantidade de precipitação registada em março foi cerca de quatro vezes o valor médio mensal e o segundo mais chuvoso desde 1931”.
O INE indica ainda que as exportações totais abrandaram bastante também entre o quarto trimestre de 2017 e o primeiro de 2018, de 7,3% para 4,6%, respetivamente. Esta expansão de 4,6% nas vendas para o exterior é o registo mais fraco em quase dois anos.