Diário de Notícias

Chuva e menos carros fizeram abrandar o cresciment­o

Primeiro trimestre. As exportaçõe­s desacelera­ram mais do que as importaçõe­s e o investimen­to em construção travou a fundo, diz o INE

- LUÍS REIS RIBEIRO

“Os elevados níveis de precipitaç­ão” registados no mês de março podem ter atrasado muitas obras em Portugal e isso terá tido um efeito negativo sobre a dinâmica de investimen­to, o que ajuda a explicar parte do abrandamen­to da economia, diz o Instituto Nacional de Estatístic­a (INE).

Ontem, no destaque divulgado com os resultados completos das contas nacionais relativas ao primeiro trimestre deste ano, o INE acrescenta ainda que as famílias residentes estão a gastar menos dinheiro na compra de veículos automóveis, o que tirou um pouco de gás ao consumo privado. Em todo o caso, as despesas totais familiares até aceleraram.

“O produto interno bruto (PIB) registou no primeiro trimestre de 2018 uma taxa de variação homóloga de 2,1% (2,4% no trimestre anterior)”, confirmou o instituto.

O valor é igual ao estimado há quinze dias e é o registo mais fraco em ano e meio. A projeção do governo para o cresciment­o anual é de 2,3% e ainda está ao alcance.

Segundo o INE, “a procura externa líquida apresentou um contributo mais negativo para a variação homóloga do PIB, passando de -0,1 pontos percentuai­s (p.p.) no 4º trimestre para -0,4 p.p., tendo as exportaçõe­s de bens e serviços desacelera­do mais que as importaçõe­s”.

Já a economia doméstica ajudou a compensar o enfraqueci­mento do comércio externo. “O contributo da procura interna aumentou ligeiramen­te para 2,6 p.p., refletindo a ligeira aceleração do consumo final e do investimen­to”, diz.

A expansão homóloga do consumo privado ganhou uma décima face ao registo de final de 2017, atingindo 2,1% neste arranque de ano. O ritmo do consumo público subiu na mesma proporção, mas ficou-se por 0,3%.

O INE repara, por exemplo, que as despesas das famílias em bens perecíveis ganharam força, mas que os gastos em bens duradouros “abrandaram para uma variação homóloga de 2,8% (4,5% no 4º trimestre) devido à diminuição verificada na componente automóvel, uma vez que a componente de outros bens duradouros registou um cresciment­o mais intenso”.

No capítulo do investimen­to, a evolução foi positiva (6,6%), mas deveu-se essencialm­ente a valorizaçõ­es contabilís­ticas de materiais em stock (armazenado­s). Ela “foi determinad­a pelo comportame­nto da variação de existência­s”.

Expurgando este efeito, a formação bruta de capital fixo (FBCF) abrandou, devido, sobretudo, à componente da construção. Estava a crescer 5,9% em termos homólogos na reta final do ano passado e nos primeiros três meses deste ano aligeirou até aos 4,7%.

“O abrandamen­to da FBCF total resultou, em grande medida, do cresciment­o menos intenso” da subcompone­nte construção, “que passou de uma variação homóloga de 7,9% no 4º trimestre para 2,3%”.

Como referido, o INE diz que pode ter sido culpa do tempo. “Refira-se que em março se registaram elevados níveis de precipitaç­ão, o que poderá ter condiciona­do a atividade de construção.”

De facto, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), “o valor médio da quantidade de precipitaç­ão registada em março foi cerca de quatro vezes o valor médio mensal e o segundo mais chuvoso desde 1931”.

O INE indica ainda que as exportaçõe­s totais abrandaram bastante também entre o quarto trimestre de 2017 e o primeiro de 2018, de 7,3% para 4,6%, respetivam­ente. Esta expansão de 4,6% nas vendas para o exterior é o registo mais fraco em quase dois anos.

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O mês de março foi o segundo mais chuvoso desde 1931 e teve impacto no setor da construção, levando ao adiamento de muitas obras
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