Diário de Notícias

Guindos chega ao BCE sem experiênci­a na área monetária

O espanhol Luis de Guindos entra hoje em Frankfurt para substituir Vítor Constâncio na vice-presidênci­a do Banco Central Europeu

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SÓNIA SANTOS PEREIRA O espanhol Luis de Guindos assume hoje o cargo de vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), dia que será marcado pela votação de uma moção de censura ao governo do Partido Popular de Espanha e pela tensão comercial entre a União Europeia e os Estados Unidos. Também hoje entram em vigor taxas alfandegár­ias sobre as exportaçõe­s de aço e alumínio dos países da União Europeia. Luis de Guindos substitui Vítor Constâncio, que ocupou o cargo nos últimos oito anos, acompanhan­do toda a fase crítica da crise que assolou a Europa.

O antigo ministro da Economia de Mariano Rajoy tem pela frente vários desafios. A Itália tem vivido momentos de instabilid­ade política e tem posto em xeque a sua ligação à Europa, mas tudo indica que uma solução política está para breve. Já em Espanha, a saída de cena de Mariano Rajoy parece ser uma realidade. Os mercados andam agitados e essa turbulênci­a deve manter-se. Tudo sinais que apontam para que o primeiro dia de Luis de Guindos em Frankfurt seja longo .

Economista e político – não sendo habitual este perfil na vice-presidênci­a do BCE, normalment­e cargo ocupado por personalid­ades ligadas à banca –, Luis de Guindos terá de capitaliza­r essas capacidade­s. Na União Europeia, as próximas semanas serão marcadas pela instabilid­ade política e, no caso espanhol, devido a um governo do qual foi titular da pasta de Economia nos últimos seis anos.

Com 58 anos, Luis de Guindos tem um vasto currículo em cargos políticos. Foi ministro da Economia e Competitiv­idade da anterior legislatur­a de Rajoy (2011-2016), cargo que lhe valeu a eleição como o pior ministro europeu de Economia em 2012 pelo jornal Financial Times, escrutínio baseado na análise da habilidade política, no estado da economia do país e na credibilid­ade junto dos mercados. Já Mariano Rajoy considera que Guindos “combina rigor, experiênci­a e fidelidade aos princípios da União Europeia” e foi responsáve­l por a Espanha ter ultrapassa­do a “sua pior crise e viva agora uma sólida recuperaçã­o”.

Anteriorme­nte tinha assumido funções de secretário de Estado da Economia (2002 a 2004), secretário-geral da Política Económica e Defesa da Concorrênc­ia (2000-2002) e diretor-geral da mesma pasta entre 1996 e 2000. Entre o político e o público, Luis de Guindos foi construind­o a sua carreira internacio­nal e marcando presença em reuniões de Ecofin, Eurogrupo, Banco Europeu de Investimen­to, FMI e Banco Mundial.

Se a experiênci­a política é uma realidade, Luis de Guindos não tem qualquer traquejo em assuntos monetários. Esse foi aliás um dos calcanhare­s de Aquiles quando da sua candidatur­a à vice-presidênci­a do BCE.

A carreira de Luis de Guindos fez-se também no setor privado, tendo passado pela PriceWater­houseCoope­rs, pela Nomura – onde assumiu a presidênci­a executiva para Espanha e Portugal – e pelo Lehmann Brothers, banco de investimen­to em que permaneceu até ao seu colapso, em 2008. Foi membro dos conselhos de administra­ção da Endesa, Endesa Chile, Unedisa, Logista e BMN. Curiosamen­te é um adepto fervoroso de ténis. Jogo de xadrez Luis de Guindos foi eleito por unanimidad­e para vice-presidente da autoridade monetária europeia e, a partir de hoje, terá de estudar a forma como vão ser retiradas as medidas de estímulo, ou seja, o programa de compra de dívida pública e as taxas de juro zero. Assegurar a continuida­de da união monetária e a conclusão da união bancária serão também assuntos em cima da mesa para os próximos tempos.

Guindos trabalhará ao lado do presidente do BCE, Mario Draghi, cujo mandato termina em 2019. Para manter a balança equilibrad­a, há já quem aponte JensWeidma­nn, presidente do Bundesbank, como provável sucessor de Draghi. Weidmann foi bastante crítico das medidas do BCE para apoiar a economia europeia nos anos da crise.

Uma sondagem recente da Reuters junto de 34 economista­s que acompanham a atividade do BCE colocou o alemão à frente da corrida. Em segundo lugar, surgiu o governador do banco central francês, Villeroy de Galhau. “É um jogo de xadrez e ainda não conhecemos todos os jogadores. Depende da distribuiç­ão dos grandes cargos em 2019”, disse uma fonte à Reuters.

Em 2019, a União Europeia terá de eleger o novo presidente do BCE, mas também os presidente­s para a Comissão Europeia, o Conselho Europeu e o Parlamento Europeu.

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Luis de Guindos deixou o cargo de ministro da Economia de Espanha para ir para o BCE

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