Esquerda e direita pedem “voz grossa” nos fundos
As líderes do Bloco e do CDS admitem chumbo da proposta que prevê corte no desenvolvimento rural
PEDRO VILELA MARQUES Há um tema que parece juntar a esquerda e a direita parlamentares: a necessidade de Portugal se bater por mais fundos comunitários – embora, na prática, os alvos de Catarina Martins e de Assunção Cristas, que ontem se referiram ao assunto na Feira Nacional da Agricultura, em Santarém, sejam diferentes. A coordenadora do Bloco de Esquerda aproveitou o tema para criticar mais uma vez as regras da União Europeia, enquanto a presidente centrista centrou o seu ataque ao governo português.
“É preciso fazer voz grossa em Bruxelas, é preciso que o governo se empenhe nessa matéria e é preciso que dê o exemplo internamente. Se tem 16 mil candidaturas paradas e os agricultores têm 1,3 mil milhões de euros para receber, não temos tanta legitimidade para reclamar mais verbas”, afirmou Cristas, para quem as notícias de Bruxelas não são boas. “Nem são boas para os agricultores, nem para o Orçamento do Estado, nem para a coesão territorial, nacional e europeia”, disse, sublinhando que o governo “tem de trabalhar intensamente” nas “muitas rondas negociais” que tem pela frente.
O primeiro plano do orçamento apresentado na sexta-feira pela Comissão Europeia prevê um corte de 15% no desenvolvimento rural. Uma proposta que a coordenadora do Bloco de Esquerda entende que deve ser chumbada por Portugal, se não tiver alterações. A líder bloquista afirmou ontem, também em Santarém, que o seu partido “analisa com muita preocupação” as propostas do orçamento para o próximo quadro comunitário de apoio, não só pelos cortes na Política Agrícola Comum (PAC) como pelos previstos nos fundos de coesão, que “penalizam particularmente Portugal”. “Portugal deve fazer uma reflexão global sobre o que significa a PAC e os fundos de coesão e o que é proposto para o nosso país”, disse, frisando que “o governo português tem a possibilidade, e deve utilizá-la, de não aceitar este orçamento”.
“Ou este orçamento é melhorado, ou faz algum sentido, ou, se não for, o governo português pode vetá-lo em Conselho Europeu como qualquer outro governo. Portugal não é mais nem menos do que qualquer outro país, mas o que não podemos aceitar é que sejam constantemente feitas regras da União Europeia que beneficiam os grandes países e que prejudicam países como Portugal”, declarou.
Catarina Martins afirmou ainda que não só Portugal está a ser penalizado por ter criado emprego, como “não é aceitável” que os fundos que são retirados na PAC e nos fundos de coesão sejam “enviados para a indústria de armamento francesa, italiana e espanhola”.
Também a líder centrista admite um chumbo do orçamento no Conselho Europeu caso a proposta se mantenha e exige ao governo” que “não aceite perder nenhum euro de verbas comunitárias para rural”.
Assunção Cristas, que tutelou a pasta da Agricultura no anterior governo PSD-CDS, frisou que o efeito do corte de 15% no desenvolvimento rural “não é o mesmo”
o
desenvolvimento nos diferentes países, sendo “muito mais negativo” em Portugal, porque se, na média europeia, os agricultores recebem 80% no primeiro pilar (ajudas diretas) e 20% no segundo, em Portugal essa proporção é 50/50. Com LUSA