Angola entre os países africanos que vão crescer em 2019
Analistas do Standard Bank situam entre 1,2% e 2,4% o crescimento de Angola, depois de dois anos em recessão
A unidade de análise económica do Standard Bank considera que o continente africano vai acelerar o crescimento económico nos próximos dois anos, beneficiando do aumento dos preços das matérias-primas e nas “robustas” condições macroeconómicas globais.
“O crescimento económico em África vai provavelmente acelerar nos próximos dois anos”, escrevem os analistas, notando que “uma economia global forte parece suficientemente robusta para elevar os preços das matérias-primas”, pelo que “o crescimentos dos exportadores africanos vai novamente ganhar fôlego”.
Na mais recente análise dos mercados africanos, enviada aos investidores e a que a Lusa teve acesso, os analistas do Standard Bank não apresentam uma previsão concreta de crescimento económico, mas escrevem que,“tal como foi evidente quando os preços das matérias-primas desceram, especialmente entre meados de 2014 e o princípio de 2016, a recuperação do crescimento económico não será uniforme entre os países produtores”.
A subida dos preços das matérias-primas, nomeadamente o petróleo, que tem vindo a recuperar sustentadamente para agora estar perto dos 80 dólares por barril, não fez que os países africanos “embarcassem em exuberância”, mantendo previsões “bastantes conservadoras” nos seus orçamentos, diz o Standard Bank, notando que, para além da Nigéria, o Orçamento de Angola, por exemplo, “coloca o preço do barril de petróleo nos 50 dólares”.
Isto, dizem os analistas, “deve garantir uma receita adicional se os preços do petróleo se mantiverem consideravelmente mais altos do que as assunções orçamentais, com estes países a assegurarem excedentes orçamentais que podem aumentar as reservas em moeda estrangeira”.
A recuperação dos preços do petróleo, uma boa notícia para a generalidade dos países africanos produtores, não deve, alertam os analistas do Standard Bank, motivar complacência face às reformas necessárias.
“Até 2016 era bastante claro que alguns destes países exportadores de petróleo precisavam de implementar ajustamentos estruturais sérios, por exemplo baixando a despesa corrente cortando a proporção que ia para os salários, ao mesmo tempo que aumentavam as despesas de capital”, dizem, vincando que “o FMI lhes implorou para baixarem os défices orçamentais”.
Se o tivessem feito, não teriam sentido de forma tão vincada a descida dos preços do petróleo, alertam, acrescentando que “alguns destes países estão a ser salvos pelos preços mais altos, e os decisores políticos podem começar a acreditar que já não é preciso avançar com as reformas”.
A evolução dos preços também é interessante de acompanhar por outras razões, como a tentação de “adotarem políticas populistas” dado o aumento de receita não orçamentada que provavelmente chegará a estes países produtores, como os lusófonos Angola e Guiné Equatorial.
“Quando os preços estavam mais baixos, era relativamente fácil para muitos governos introduzirem reformas sobre os subsídios aos combustíveis que removiam, ou reduziam significativamente os subsídios governamentais”, diz o Standard Bank, concluindo que “agora que o petróleo de Brent está perto dos 80 dólares, e há pedidos esporádicos para o preço chegar aos cem dólares, a determinação destes governos em garantir que os consumidores pagam o preço total do combustível será testada”.
A unidade de análise económica do Standard Bank considera que, por exemplo, a economia de Angola vai crescer 1,2% neste ano e 2,4% em 2019, após dois anos de recessão acumulada acima de 5%.
“Vemos um aumento no crescimento do PIB neste ano e no próximo, chegando a 1,2% em 2018 e 2,4% em 2019, alicerçado na melhoria dos preços do petróleo, que devem melhorar a liquidez de moeda externa e potenciar a procura interna”, escrevem os analistas do maior banco a operar em África.
Lembrando que o país saiu de uma “profunda recessão” em 2016 e 2017, de 2,6% e 2,5%, respetivamente, o Standard Bank nota que “a última vez que a economia cresceu foi em 2015, quando registou uma expansão de 0,9%”.
A economia angolana foi afetada pelo colapso dos preços do petróleo, em 2014, o que causou pressões na liquidez da moeda estrangeira, nomeadamente dólares, e “obrigou” à adoção de “medidas restritivas de política monetária e consolidação orçamental”. MÁRIO BAPTISTA, jornalista da agência LUSA