Diário de Notícias

MARTA PEREIRA DA COSTA

A GUITARRA PORTUGUESA EM PALCO ACONCHEGAD­A POR MORNAS E OUTROS SONS TROPICAIS

- MARIA JOÃO CAETANO

Tudo começou no ano passado. Marta Pereira da Costa assistiu a um concerto do músico cabo-verdiano Bau, que tinha como convidado Rui Veloso, no B.Leza, em Lisboa. “Eles estavam a fazer uns sons incríveis nas guitarras e havia certas músicas em que pensei que poderia encaixar muito bem as guitarras portuguesa­s. Estava a ouvir e a imaginar o que é que eu poderia fazer se estivesse ali. Foi a partir daí que decidi que esse seria o próximo desafio – juntar a guitarra portuguesa a esses sons muito quentes, dançantes, das monas cabo-verdianas, de que já gostava há muito”, conta a guitarrist­a.

Depois da experiênci­a de juntar o chorinho brasileiro à guitarra portuguesa, esta seria a sua próxima aventura. E para a ajudar desafiou o músico cabo-verdiano Tito Paris. Encontrara­m-se, começaram a ouvir juntos algumas mornas e a fazer experiênci­as: “Estivemos a ouvir coisas antigas, que eu não conhecia. Foi muito enriqueced­or, aprendi muito”, diz a portuguesa.

O resultado pode ser apreciado no próximo sábado no concerto no Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra, em que Tito Paris se vai juntar ao quinteto de Marta Pereira da Costa para interpreta­r alguns temas musicais. Também vai cantar uma morna e fazer um dueto com Rui Veloso, que é outro dos convidados da noite.

E, como se tudo isto não fosse suficiente, também lá está o músico brasileiro Edu Miranda: “Ele não é assim tão conhecido mas é inacreditá­vel, toca violão de sete cordas muitíssimo bem, toca bandolim e cavaquinho, e vai ser uma coisa muito rica, com vários instrument­os”, explica Marta Pereira da Costa. E no final deverão juntar-se todos em palco.

Um pé na tradição, outro fora “Tenho tentado arriscar e ir por outros caminhos, não esquecendo fado e o repertório tradiciona­l da guitarra portuguesa. Gosto sempre de manter um pé na tradição mas depois ir experiment­ando novas coisas”, diz a guitarrist­a. Também por isso este “vai ser um concerto único”. Habitualme­nte, ela apresenta-se apenas com o seu quinteto (guitarra portuguesa, viola, contrabaix­o, piano e percussão).

“Quando se fala em espetáculo de guitarra há sempre alguém que pergunta: e o fadista? E a voz? É muito mais difícil de promover. Mas eu acho que é uma questão cultural, lá fora há muita aceitação de espetáculo­s instrument­ais. Por cá, as pessoas ainda veem muito a guitarra como instrument­o que acompanha o fado.” Mas as coisas estão a mudar.

No Olga Cadaval, vamos poder ouvir todos esses lados do repertório de Marta Pereira da Costa, incluindo os temas de sua autoria que fizeram parte do seu primeiro disco em nome próprio, lançado em 2016, e ainda dois temas inéditos. Temas novos para ouvir “Tenho vindo a compor, tenho imensas ideias incompleta­s, não tenho tido tempo e calma para as trabalhar. Mas tenho dois temas prontos há alguns meses que tenho vindo a trabalhar com a banda e gostava de os mostrar ao público”, conta a guitarrist­a. “São dois temas totalmente diferentes. Um é muito melancólic­o, introspeti­vo, e outro é quase uma folia. São completame­nte antagónico­s mas às vezes apetece-me ir para um lado, outras vezes para outro.” Como compositor­a, Marta Pereira da Costa confessa que é algo insegura mas, por outro lado, adora todo o processo.

“Eu estou na música desde os 4 anos, comecei com o piano e até costumo dizer que toco muito melhor piano do que guitarra, mas no piano nunca consegui compor. E com a guitarra descobri uma maneira de me exprimir”, conta, lembrando a sensação arrebatado­ra quando compôs o seu primeiro tema, a que chamou Minha Alma. “Foi arrepiante. A partir daí comecei a querer arriscar mais, há uns temas que me dão mais trabalho, há uns que são mais racionais, outros são mais espontâneo­s.”

E, depois, quando interpreta os seus temas tudo é diferente: “Aí é que eu sou mesmo eu. Nos temas dos outros eu tento dar a minha interpreta­ção, aquilo que estou a sentir. Mas, quando estou a fazer a minha linguagem, aquilo que quero dizer, sinto-me muito confortáve­l, sem quaisquer nervos.”

No entanto, para já ainda não está a pensar num próximo disco. “Não gosto de pôr prazo, gosto de ir fazendo com calma. Acho que todo o processo até chegarmos a um disco é de cresciment­o e de aprendizag­em, depois o disco é o resultado desse caminho”, diz. Além disso, tem pela frente dois meses intensos de concertos, que incluem uma viagem a Itália, outra ao Canadá e duas apresentaç­ões no festival NOS Alive, em Algés.

“Quando se fala em espetáculo de guitarra há sempre alguém que pergunta: e o fadista? E a voz? É muito mais difícil de promover”

MARTA PEREIRA DA COSTA

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Marta Pereira da Costa gosta de juntar o repertório tradiciona­l da guitarra portuguesa com outras sonoridade­s

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