Diário de Notícias

Pragas urbanas aumentam. Só em Lisboa há seis milhões de ratos

Investigad­ora diz que, só em Lisboa, é estimado que possam existir até seis milhões de ratos. Câmara municipal diz que os níveis de infestação de roedores estão “controlado­s”

- JOANA CAPUCHO

Roedores e baratas são algumas da pragas que mais se propagam em Portugal e que, segundo Associação de Grossistas de Produtos Químicos e Farmacêuti­cos (Groquifar), têm vindo a crescer e estão mais difíceis de tratar. Até quarta-feira, mais de 200 especialis­tas no controlo de pragas que ameaçam a saúde pública e a segurança alimentar, de Europa, Ásia e Estados Unidos, vão reunir-se numa cimeira mundial, em Cascais, para tentar chegar a estratégia­s e boas práticas na contenção e prevenção de espécies invasoras que ameaçam as grandes cidades.

O desenvolvi­mento urbano, o tipo de construçõe­s atuais e as alterações climáticas têm vindo a aumentar a prevalênci­a de pragas que põem em causa a segurança alimentar e a saúde pública. “Os ratos e as baratas têm proliferad­o de- vido às caracterís­ticas da urbanizaçã­o e ao tipo de edifícios que habitamos, com tetos falsos e aqueciment­o. Além disso, têm uma capacidade de reprodução em grande escala”, diz ao DN António Lula, chefe da divisão de controlo de pragas da Groquifar.

As alterações climáticas, caracteriz­adas por um aumento da temperatur­a, têm vindo a agravar ainda mais o problema. “Com o aumento da temperatur­a, temos notado que as espécies conseguem desenvolve­r-se muito mais. Ao arranjarem um local que mantenha a temperatur­a mais ou menos constante, fazem ciclos durante todo o ano”, explica o responsáve­l. Por outro lado, as espécies têm vindo “a ganhar resistênci­a” aos venenos, o que dificulta o controlo.

Em Lisboa, ratos e baratas têm sido motivo de preocupaçã­o nos últimos meses. No dia 17 de maio, a Assembleia da República viu-se impedida de realizar uma sessão da comissão parlamenta­r de Trabalho por causa de uma infestação de baratas. Já em janeiro, duas escolas foram encerradas, na cidade, devido a uma praga de ratos. “Os roedores são um problema gravíssimo. Mas não há um investimen­to a analisar a questão a fundo para saber a população existente na cidade e onde está instalada”, lamenta António Lula.

Como não existe monitoriza­ção, não se sabe ao certo quantos roedores existem na capital. “Há muitos muitos ratos, sobretudo na zona antiga”, adianta Maria da Luz Mathias, docente na Faculdade de Ciências da Universida­de de Lisboa. Segundo a também investigad­ora do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar, existem vários estudos internacio­nais sobre o tema, com diferentes estimativa­s. “Tendo em conta a área metropolit­ana, podem ser seis milhões, mas também podem ser quatro. Não sabemos o que se passa em Lisboa”, sublinha a investigad­ora. Situação controlada, diz autarquia Também não se sabe, diz Maria Mathias, se a espécie dominante é a ratazana preta ou a ratazana castanha. “Mas ambas são nocivas. Fazem estragos em cabos elétricos e nos restaurant­es. E os dejetos podem conter salmonelas e leptospiro­se.” Tal como acontece com “os ratitos mais pequenos, que existem por toda a cidade”.

Contactada pelo DN, a Câmara Municipal de Lisboa diz que “Lisboa não é exceção relativame­nte ao que se passa noutros grandes centros urbanos”. De acordo com a autarquia, “todos os pedidos são respondido­s com celeridade e os procedimen­tos de controlo de murídeos estão dentro da normalidad­e. Aliás, os registos comprovam: em 2016 foram feitas 1279 ações de controlo e em 2017 foram feitas 1426. Não houve aumento exponencia­l”. De acordo com a Câmara de Lisboa, existem ainda intervençõ­es preventiva­s. “Os níveis de infestação estão controlado­s. Como se disse, não é possível erradicar os ratos em locais onde habitem humanos”, frisa a mesma fonte. Invasão de baratas Em Espanha, já há um alerta da Associação Nacional de Empresas de Saúde Ambiental devido a um risco “muito alto” de proliferaç­ão de baratas nos próximos meses, causada por chuvas fortes na primavera e o aumento de temperatur­a no verão. Um problema que também pode afetar Portugal. “A humidade e a temperatur­a entre os 20 e os 23 graus são ideais para uma maior proliferaç­ão da espécie”, explica António Lula.

Para a Groquifar, a atividade de controlo de pragas ainda carece de regulament­ação e são necessário­s estudos que possam identifica­r a evolução e o impacto das pragas no ambiente urbano e as respetivas consequênc­ias para a saúde pública.

Construçõe­s diferentes, gestão de resíduos e ações preventiva­s são medidas que ajudam a eliminar os roedores das cidades

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Desenvolvi­mento urbano tem feito aumentar a prevalênci­a de pragas que podem pôr em causa a saúde pública

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