As questões da água aqui e hoje
No ano passado Portugal viveu uma das mais severas secas de que há memória, tendo começado no final de 2016, prolongando-se por todo o ano de 2017, tendo terminado apenas há escassos dois meses. O retrato do ano que passou foi um exemplo perfeito do muito que há a fazer e dos riscos que corremos num quadro de alterações climáticas. Estamos muito dependentes das fontes de água tradicional para os vários usos, sejam albufeiras ou águas subterrâneas. Os níveis de armazenamento nas albufeiras diminuíram drasticamente ao longo do ano de 2017 e, simultaneamente, verificou-se uma corrida à água subterrânea com um aumento enorme de pedidos para novos furos. Mas as questões relacionadas com a eficiência do uso da água apenas entraram na agenda política em outubro, quando a seca já se havia instalado plenamente. O Programa Nacional para o Uso Eficiente da Água (republicado em 2012) deixou de ser acompanhado, nada se sabendo do que está feito ou é necessário e possível fazer, nomeadamente em setores críticos como a agricultura (que consome cerca de 80% da água). Por outro lado, fontes de água alternativa para usos menos nobres, como sejam o aproveitamento de águas pluviais ou a utilização de água reciclada continuam a ser uma miragem, estando a oportunidade de reconversão dos sistemas de abastecimento de água em obras de reabilitação urbana a ser estrondosamente perdida. O governo prometeu um regulamento para a utilização da água reciclada no primeiro semestre deste ano. Estamos a aguardar. As autoridades também não fazem ideia do número de furos existentes ou da quantidade de água que é retirada. A água de um aquífero é considerada privada nos limites da propriedade, mas a utilização que se faz dessa água tem um impacto real na sociedade. Talvez esteja na altura de rever o Regime de Titularidade dos Recursos Hídricos e tornar toda a água pública.