Primavera chuvosa apenas atrasa perigo de incêndio
O ano de 2003 teve condições semelhantes e foi o segundo pior
Como em muitas coisas, depende. Não há uma resposta segura para quem se tem perguntado se a chuva fora de época vai evitar os fogos de verão. Se por um lado a chuva e as temperaturas inferiores ao habitual para a época tendem a atrasar o perigo de incêndios florestais – diminuindo, eventualmente, o tempo de risco –, por outro a humidade que se têm verificado faz que o mato rasteiro cresça mais rápido. O que, em caso de incêndio, prejudica a atuação dos que o tentam combater e faz que o fogo se espalhe mais rápido.
Aconteceu algo semelhante em 2003, ano em que o mês de junho teve as mesmas características – frio e chuva fora de época, a que se seguiu um verão muito quente. “Foi o segundo pior ano em incêndios florestais”, avisa Duarte Caldeira, presidente do Centro de Estudos e Intervenção em Proteção Civil (CEIPC). Por isso, esta primeira quinzena de junho pode muito bem ser “enganosa”. Porque se este perfil meteorológico se alterar dentro de duas semanas, “e se as temperaturas ficam elevadas, o solo, por consequência, tende a ficar seco, o que eleva o risco de incêndio”, explica o especialista.
Domingos Xavier Viegas, que lidera a equipa do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais da Universidade de Coimbra e foi responsável pelo relatório de Pedrógão, explica que, “com o que choveu em março, abril e maio, a humidade do solo vai manter-se durante o mês de junho, o que implica que o período de incêndios comece mais tarde, e é muito provável que o período de incêndios seja mais curto”.
Mas, como já se provou no ano passado, o atraso da época de incêndios pode não querer dizer que o perigo está afastado – tal como aconteceu em outubro de 2017. Embora as matas estejam agora limpas, a humidade acrescida e fora de época vai fazer que o mato mais rasteiro cresça outra vez, e como explica Fernando Curto, presidente da Associação dos Bombeiros Profissionais, isso pode tornar-se um sério problema no combate.
“No final de agosto, setembro ou outubro, a situação pode tornar-se complicada outra vez. A humidade faz que o mato rasteiro cresça rapidamente e seque também rapidamente daqui a uns meses, quando chegarem as temperaturas elevadas.” Para evitar maiores danos é essencial que a prevenção seja contínua, para impedir o crescimento da vegetação – o prazo de final de maio para a limpeza das matas estava a contar que nesta altura não houvesse humidade para que as ervas crescessem outra vez. Ou seja, mesmo quem já limpou as matas tem de continuar a fazê-lo, ainda mais se a primavera continuar chuvosa.