Embaixador de Trump em Berlim apoia “onda conservadora” na Europa
Entrevista de Richard Grenell ao site de extrema-direita Breitbart está a ser alvo de críticas por politizar a diplomacia
O embaixador americano Richard Grenell apresentou credenciais ao presidente alemão Frank-Walter Steinmeier em Berlim
SUSANA SALVADOR O embaixador norte-americano na Alemanha, Richard Grenell, mostrou-se entusiasmado com a onda de conservadorismo na Europa, dizendo que quer “dar poder” aos líderes deste movimento. As declarações, que estão a ser criticadas, foram feitas numa entrevista ao site de notícias de extrema-direita Breitbart.
“Há muitos conservadores por toda a Europa que me contactaram para dizer que estão a sentir que existe um ressurgimento”, afirmou. “Eu quero dar poder aos conservadores pela Europa, a outros líderes. Acho que existe uma onda de políticas conservadoras que estão a crescer por causa das políticas fracassadas da esquerda”, acrescentou o embaixador, que assumiu o cargo no mês passado.
“Não há dúvida de que este é um tempo entusiasmante para mim. Olho para o cenário e temos muito trabalho para fazer, mas acho que a eleição de Donald Trump capacitou indivíduos e pessoas a dizer que não podem simplesmente permitir que a classe política determine antes das eleições quem é que vai ganhar e quem deve concorrer”, afirmou o embaixador, criticando um círculo de elite política e de media como “uma pequena multidão elitista” que diz quem tem que ganhar.
E não hesita em expressar o seu respeito e admiração pelo jovem chanceler conservador austríaco Sebastian Kurz, que se aliou à extrema-direita para governar. “Acho o Sebastian Kurz uma estrela de rock. Sou um grande fã.”
Mais à frente na entrevista, Grenell afirmou que a estratégia vencedora é apostar em políticas “consistentes conservadoras” sobre imigração, cortes de impostos e cortes na burocracia. O que alguns leem como uma crítica à conservadora chanceler alemã, Angela Merkel, que abriu as portas aos migrantes. Noutra parte da entrevista, Grenell diz que Merkel “sofreu politicamente” por ter deixado entrar muitos migrantes.
Apesar de não dizer a que conservadores se refere, os comentários foram altamente criticados tanto nos EUA como na Europa por Grenell estar a politizar a democracia e a ameaçar ainda mais as relações transatlânticas. Não é a primeira vez que o embaixador causa polémica, depois de no Twitter ter escrito o que parecia uma ameaça às empresas alemãs.
“Uma regra-chave da diplomacia é que os embaixadores não devem interferir na política doméstica dos países para os quais estão acreditados”, escreveu no Twitter Nicholas Burns, um ex-diplomata norteamericano na NATO e na Grécia.
O senador democrata norte-americano Chris Murphy, eleito pelo Connecticut, considerou a entrevista “horrível”, lembrando que ele lhe tinha garantido que iria “ficar fora da política”.
O próprio Grenell defendeu as suas declarações no Twitter, especialmente depois de ser acusado de apoiar os “defensores do nazismo”. Condenando tal declaração, reiterou as suas declarações de que a “maioria silenciosa”, que rejeita “as elites e a sua bolha” está a “acordar”, “liderada por Trump”.