Diário de Notícias

Mariano Rajoy, ao longo de todo o processo, conseguiu sacudir sempre os salpicos de corrupção que a imprensa do seu país insistente­mente noticiava, como se a responsabi­lidade política não fosse sua e, sim, exclusiva do anterior primeiro-ministro do seu pa

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a penas de prisão de 18 anos a 3 anos e 6 meses, após aplicação do artigo 76.º do Código Penal que fixa o prazo máximo de cumpriment­o da pena.

A sentença Gürtel retirou a credibilid­ade ao PP, que governou a Espanha de 1996 a 2004 e de 2011 até ao presente. Mariano Rajoy, ao longo de todo o processo, conseguiu sacudir sempre os salpicos de corrupção que a imprensa do seu país insistente­mente noticiava, como se a responsabi­lidade política não fosse sua e, sim, exclusiva do anterior primeiro-ministro do seu partido, José María Aznar, amigo do empresário Francisco Correa. (Refira-se, a título de curiosidad­e, que Correa, “Correia”, em português, traduzido para alemão, significa “Gürtel”.)

As empresas de Correa, aliás “Gürtel”, organizava­m os eventos políticos do PP e candidatav­am-se a inúmeros concursos públicos com orçamentos inflaciona­dos. Uma parte do dinheiro de todos os espanhóis servia então para pagar (subornar) os responsáve­is do PP que tinham poder para adjudicar os eventos das empresas “vencedoras”. Nessa época, Rajoy desempenha­va o papel de homem de confiança de Aznar, e dirigia as campanhas políticas que Correa, aliás Gürtel, organizava. Talvez por dotes de invulgar poder mimético, o certo é que, ao longo do processo, Mariano Rajoy conseguiu evitar sempre a teia Gürtel, tornando-se num primeiro-ministro muito respeitado e apreciado por D. Filipe VI, em virtude do seu posicionam­ento musculado face à crise catalã.

E isto de modo dificilmen­te compreensí­vel, já que, em meu entender, a gestão do processo independen­tista da Catalunha foi sempre muito mal conduzida pelo governo de Rajoy, acabando por desencadea­r uma crise institucio­nal (e territoria­l) sem precedente­s no seu país (exceto entre 1931 e 1939) e, por consequênc­ia, um claro afastament­o dos catalães da Coroa de Espanha. Rajoy acreditou que conseguia resolver o problema catalão através dos tribunais, dos mandatos de prisão, ou das Euro-Ordens, e entregou a solução política daquela Comunidade Autónoma à justiça. Resultado: quando as responsabi­lidades políticas se deixam nas mãos dos tribunais, o que depois sobra nunca é bom para os políticos.

Agora é a vez do socialista Pedro Sánchez e do PSOE (que perderam duas eleições nacionais, sucessivam­ente, em 2015 e 2016) constituír­em um governo com o apoio parlamenta­r, entre outros, do Podemos, de Pablo Iglesias; da ERC (Esquerda Republican­a de Catalunya, partido independen­tista); do PDeCAT (Partido Democrata Europeu Catalão, partido independen­tista); do EH Bildu (Coligação Separatist­a do País Basco); e do Compromís e da Nueva Canarias (ambos partidos políticos nacionalis­tas das ilhas Canárias). A menos que, entretanto, aconteça algo de extraordin­ário, para já, o certo é que os últimos acontecime­ntos em Espanha abriram uma nova porta para o diálogo com a Catalunha, como ficou claro pela intervençã­o de Pedro Sánchez, em Madrid, no Congresso de Deputados. Agora, só falta aguardar a chegada de Carles Puigdemont...

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