Diário de Notícias

NA EUROPA A PENSAR NO LUGAR DE ANGOLA EM ÁFRICA

Estratégia. Luanda aposta no reforço da influência no continente europeu e procura captar investimen­to estrangeir­o para modernizar a economia angolana. Presidente garante que as relações “vão bem” com Portugal

- ABEL COELHO DE MORAIS/ Plataforma

Luanda aposta no reforço da influência no continente europeu e procura captar investimen­to estrangeir­o para modernizar a economia

Acordos sobre agricultur­a, turismo, defesa, encontros com empresário­s para falar sobre novas condições para o investimen­to estrangeir­o em Angola mas também o sublinhar da importânci­a do setor petrolífer­o na economia do país – aspetos que marcaram as deslocaçõe­s do presidente João Lourenço à Bélgica, que se conclui nesta terça-feira, e a França, na passada semana. Mas também a situação regional, em especial a crise política na RD Congo, esteve no centro da primeira visita do chefe do Estado angolano à Europa.

Na Bélgica, Lourenço esteve reunido com o rei Filipe, o primeiro-ministro Charles Michel visitou a Escola Real Militar, tendo ficado em aberto a possibilid­ade de militares angolanos frequentar­em a instituiçã­o, e reuniu-se com empresário­s. Encontrou ainda dirigentes da UE e desloca-se nesta terça-feira a Antuérpia, segundo porto europeu e centro da indústria diamantífe­ra. Angola é um dos principais produtores mundiais de diamantes e a expectativ­a é de que haja mais investimen­to estrangeir­o no setor.

O vetor económico foi privilegia­do na Bélgica pelo dirigente angolano que falou sobre as medidas tomadas “no sentido de atrair o investimen­to privado estrangeir­o” e na importânci­a de combater os grandes males de que a sociedade angolana enferma, mas que “têm os dias contados”: a corrupção e impunidade. Lourenço martelou a ideia de estar “numa verdadeira cruzada” contra estes problemas. E garantiu “resultados positivos” a curto prazo. Em menos de um ano no poder, o presidente mudou, entre outras, as administra­ções da diamantífe­ra nacional, Sonangol e Fundo Soberano, decisões interpreta­das como sinal de que não pactuará com situações herdadas do passado. Investimen­to estrangeir­o Confrontad­a com uma crise económica desde 2014 e com escassez de divisas, Angola necessita do investimen­to estrangeir­o para reduzir a dependênci­a da receita do petróleo, que representa 30% do PIB, 90% do valor total das exportaçõe­s e 46% das receitas orçamentai­s, segundo dados do Banco Africano de Desenvolvi­mento para 2017.

Numa entrevista à Euronews, no âmbito da deslocação a França, Lourenço desvaloriz­ou o facto de a sua primeira deslocação à Europa não ter sido a Portugal, afirmando que “as relações com este país vão bem” e está a ser preparada a visita do primeiro-ministro António Costa a Luanda, o que deverá “acontecer a todo o momento”.

As relações Lisboa-Luanda conheceram momentos de alguma tensão até ter ficado decidido em maio que o processo envolvendo o ex-vice-presidente angolano Manuel Vicente será transferid­o para a justiça deste país.

Discurso idêntico ao realizado na Bélgica foi feito por João Lourenço em Paris, na passada semana, onde encontrou responsáve­is de alguns dos principais grupos económicos e o seu homólogo francês, Emmanuel Macron. Além da vertente económica de visita, onde ficou clara a importânci­a do setor petrolífer­o, com o presidente angolano a garantir que este será reformado mas não perderá importânci­a, resultou o reforço da cooperação estratégic­a para a região dos Grandes Lagos. A região é marcada atualmente pela crise na RD Congo, onde o presidente cessante permanece relutante em abandonar o poder (o que deveria ter feito em 2016) e a situação permanece tensa no leste do país, onde atuam vários grupos rebeldes e de base étnica. A perspetiva em Paris é que Luanda, vista como próxima de Kabila, pode exercer influência sobre o dirigente congolês num momento em que se tenta concretiza­r as presidenci­ais em dezembro. A França tem sido o país relator das resoluções da ONU para a região.

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 ??  ?? João Lourenço e a mulher foram ontem recebidos pelos reis da Bélgica
João Lourenço e a mulher foram ontem recebidos pelos reis da Bélgica
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O presidente angolano já antes fora recebido pelo homólogo francês

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