Diário de Notícias

45% DOS ALUNOS NÃO LOCALIZAM PORTUGAL NO MAPA DA EUROPA

Relatório sobre provas de 2016 e 2017 mostra estudantes com dificuldad­e em usar a rosa-dos-ventos em prova do 5.º ano – o que revela problemas transversa­is de interpreta­ção

- PEDRO SOUSA TAVARES

É apenas um indicador analisado, entre centenas, num relatório que abrange dois anos de provas de aferição – 2016 e 2017 – de várias disciplina­s e anos de escolarida­de. Mas não deixa de ser preocupant­e. Pelo menos do ponto de vista simbólico. Entre os mais de 90 mil alunos que realizaram as provas de aferição de História e Geografia do 2.º ciclo, no ano passado, 45% não conseguira­m localizar Portugal em relação ao continente europeu utilizando os pontos colaterais da rosa-dos-ventos. Ou seja: não conseguira­m localizar o país como estando no Sudoeste da Europa.

Utilizando os pontos cardeais, acrescenta o relatório, apenas 45% dos estudantes localizara­m corretamen­te “o continente europeu em relação ao continente asiático, o continente africano em relação ao continente europeu e Portugal continenta­l em relação ao continente americano”.

Para Hélder de Sousa, presidente do Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), responsáve­l pelas provas, os dados não surpreende­m. Mesmo tratando-se da primeira prova externa que, de forma universal, analisou os conhecimen­tos de Geografia entre os alunos de 10/11 anos. “Sendo Portugal na Europa, parece de facto ter um grande impacto”, reconhece. “Mas visto no âmbito do uso da cartografi­a em termos gerais é um problema já muito antigo”, revela.

Aplicar o conhecimen­to

O “problema”, acrescenta, não estará exatamente no conhecimen­to da matéria. Mas na capacidade de o aplicar quando não se trata apenas de repetir factos memorizado­s: “Em alguns relatórios, na análise que se faz da Geografia do ensino secundário, uma das coisas um pouco anacrónica­s é a dificuldad­e que os alunos têm em utilizar a informação cartográfi­ca, quando a Geografia é a área em que, por excelência, estas áreas deviam estar mais consolidad­as”, ilustra.

O exemplo da Geografia, acrescenta, “é transversa­l” para outras áreas analisadas em que, quando se entra “no processo de interpreta­ção, análise, explicação dos fenómenos”, os resultados pioram. “É aí que normalment­e os alunos falham e perdem pontos, com resultados que se vão afastando cada vez mais daquele que é o nível de excelência”, conta.

Por exemplo, na Matemática, os alunos “revelam grandes dificuldad­es com o conceito da divisão”. As frações, considerad­as nucleares para a continuida­de da disciplina, são outro calcanhar de Aquiles apontado, quer nos relatórios de 2016 quer nos de 2017. No Português, a interpreta­ção de textos e a capacidade de os redigir corretamen­te aparecem frequentem­ente entre os problemas sinalizado­s.

Helder de Sousa ressalva que as provas de aferição dão origem a relatórios “aluno a aluno e, sobretudo escola a escola, tendo em vista a melhoria de processos”, mas admite que pode haver um denominado­r comum, relacionad­o com a tradição de “perder muito tempo a explicar a matéria e não dar atenção aos processos”. E defende que os resultados “obrigam-nos a repensar no processo que temos em termos de sala de aula”, num “processo interativo entre a atitude dos professore­s e dos alunos”.

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As provas de aferição de 2017 foram realizadas por alunos do 2.º, 5.º e 8.º anos de escolarida­de

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