Diário de Notícias

Putin diz que Rússia não está a tentar dividir a Europa

Presidente russo visitou ontem a Áustria, na primeira viagem a um país da Europa Ocidental em quase um ano

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O presidente russo, Vladimir Putin, quer trabalhar com uma União Europeia “unida e próspera”, desmentind­o qualquer vontade de “desestabil­izar” ou “dividir” o continente ao construir relações com partidos eurocético­s ou nacionalis­tas. “Temos interesse em que a União Europeia seja unida e próspera, porque a UE é o nosso principal parceiro económico e comercial. E quantos mais problemas há no seio da UE, maiores são os riscos e a incerteza para nós. Pelo contrário, temos de desenvolve­r a cooperação com a UE”, afirmou Putin numa entrevista à estação pública austríaca ORF.

Putin visitou ontem a Áustria, na primeira ida a um país da Europa Ocidental em quase um ano (a última fora à Finlândia em julho).

As relações entre UE e a Rússia, que já estavam tensas desde a aplicação das sanções económicas a Moscovo por causa da anexação do território ucraniano da Crimeia, assim como a guerra na Síria, ficaram ainda mais difíceis com o envenename­nto do ex-agente russo Sergei Skripal e da filha, no Reino Unido. Londres acusou Moscovo de estar por detrás da tentativa de homicídio. Ao contrário da maioria dos países europeus, a Áustria (tal como Portugal) não expulsou diplomatas russos.

O presidente russo encontrou-se com o homólogo austríaco Alexander van der Bellen e o chanceler Sebastian Kurz, assim como líderes empresaria­is. A visita marca oficialmen­te os 50 anos da assinatura do primeiro acordo de fornecimen­to de gás entre a russa Gazprom e a austríaca OMV.

Ligação à extrema-direita Na véspera do encontro com Putin em Viena, o vice-chanceler austríaco e líder do Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ, extrema-direita), Heinz-Christian Strache, pediu o fim das sanções europeias contra a Rússia.

Na entrevista à ORF, o presidente russo desvaloriz­ou as ligações do seu partido Rússia Unida à extrema-direita austríaca (têm um acordo de cooperação desde 2016). Putin admitiu que pode haver “no seio dos partidos políticos, certas preferênci­as” em matéria de colaboraçã­o.

“Nós decidimos de maneira pragmática. Tentamos cooperar com aqueles que exprimem publicamen­te o desejo de trabalhar connosco”, afirmou. “É a única razão dos contactos políticos entre os nossos partidos e alguns na Europa, e isso não é certamente qualquer desejo de fazer qualquer coisa para desestabil­izar ou constrange­r a União Europeia”, acrescento­u Putin. “Espero que a Áustria e outros países da UE tirem essa ideia da cabeça”, disse à ORF.

Heinz-Christian Strache, cujo partido pró-russo é aliado do governo conservado­r de Sebastian Kurz, disse no passado que era contra as sanções europeias a Moscovo, pelo apoio aos rebeldes na Ucrânia. Numa entrevista ao jornal Österreich, publicada no domingo, foi ainda mais longe. O FPÖ reconheceu a anexação da Crimeia.

“É tempo de acabar com estas sanções exasperant­es e normalizar as relações políticas e económicas com a Rússia”, disse Strache. S.S.

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