“Não se admirem por pedirmos [Angola] a adesão à francofonia e que daqui a uns dias estejamos a pedir também a adesão à Commonwealth”
Essa é, ainda, uma das explicações para a candidatura de Angola à Organização Internacional da Francofonia (OIF). O Congo é o mais populoso dos países francófonos e é, também, o país com o qual Angola partilha uma importante etnia, os bacongos, com língua comum, kikongo. A estratégia económica Mas a própria estratégia diplomática francesa, definida por Macron, justifica essa decisão. Em janeiro passado, o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Yves Le Drian, esteve reunido em Lisboa com Augusto Santos Silva. Aí, os dois chefes da diplomacia concordaram que a “lusofonia” e a “francofonia” deviam cooperar (participando, de forma cruzada, na CPLP e na OIF – Organização Internacional da Francofonia) porque, explicou Le Drian, estas “não são apenas organizações de defesa da língua, mas que levam a diferentes continentes os nossos valores, os nossos princípios de diálogo, de cooperação e de solidariedade e que constituem um instrumento diplomático de primeira linha”.
“Angola está num momento de viragem histórico”, resume uma fonte diplomática portuguesa. O chefe de Estado angolano tem, ainda, uma grande vantagem sobre Paul Kagame, o atual líder da OUA. O seu papel como líder da Frente Patriótica do Ruanda durante o genocídio dos anos 1990 ainda hoje motiva denúncias (no último número da New York Review of Books é feita uma análise ao papel de Kagame na violência no Ruanda e no Congo). Kagame é, ainda, um velho “inimigo” da França – país que acusou de ter apoiado o anterior regime hutu no massacre dos tutsis, a sua etnia. A grave situação humana no Congo não só ameaça a estabilidade interna em Angola (na semana em que Lourenço discutia o Congo em Paris, as autoridades angolanas entraram em prevenção para impedir o alastramento de uma nova epidemia de ébola na fronteira). É também um obstáculo para uma das prioridades de Luanda: a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral. Lourenço preside a secção de Política, Defesa e Segurança da organização. E tem, com a África do Sul, uma linha para o desenvolvimento da região que passa por combater a corrupção e valorizar as fontes económicas únicas da região (um exemplo: o Congo tem as maiores reservas mundiais de volframite, um mineral utilizado na maioria dos gadgets modernos).
João Lourenço foi claro numa entrevista à Euronews: “Angola está cercada, não por países lusófonos mas por países francófonos e anglófonos. Portanto, não se admirem que estejamos a pedir agora a adesão à francofonia e que daqui a uns dias estejamos a pedir também a adesão à Commonwealth.”