Diário de Notícias

Ferreyra, o miúdo irrequieto que se inspirou em Batistuta

O reforço encarnado ganhou o apelido de boneco de filme de terror e para se afirmar no futebol teve de aprender a ser agressivo

- CARLOS NOGUEIRA

Facundo Ferreyra vai assinar contrato com o Benfica válido por quatro épocas. O avançado argentino de 27 anos representa­va o Shakhtar Donetsk desde 2013 – nas duas últimas temporadas foi treinado por Paulo Fonseca – e é uma grande aposta da SAD encarnada, razão pela qual será um dos jogadores mais bem pagos de sempre na Luz, auferindo qualquer coisa como 2,2 milhões de euros líquidos por ano.

Nascido em Lomas de Zamora, na província de Buenos Aires, Ferreyra começou a dar os seus primeiros passos no futebol logo aos 4 anos, num pequeno clube do seu bairro, o ECA. Aos 6 anos subiu um degrau, e foi para o Olimpia, da sua cidade. Só que os mais de 80 golos que marcou num campeonato local fez que aos 10 anos fosse recrutado para as escolinhas do Banfield. “Chegou ao clube muito jovem e percorreu todos os escalões”, recorda, ao DN, Carlos Portell, antigo presidente do Banfield, que é um velho conhecido da família do reforço dos encarnados. “Em tempos joguei ténis com o avô de Facundo, conheço toda a família e posso garantir que é um rapaz bem formado”, acrescenta, recordando o avançado como “muito trabalhado­r” e que “aceitava sempre bem as indicações dos treinadore­s”.

Obrigado a ser mais agressivo No percurso que fez nas camadas jovens, Facundo Ferreyra recebeu a alcunha de Chucky. “Era um miúdo muito irrequieto parecia um boneco de um filme de terror muito popular aqui na Argentina e por isso colocaram-lhe essa alcunha”, recorda Portell. Aliás, o Benfica passa a ter dois jogadores com esta alcunha, pois Franco Cervi também era assim tratado quando começou a jogar no Rosário Central.

Raúl Wensel era o coordenado­r da formação do Banfield e acompanhou a evolução de Ferreyra. “Desde cedo percebi que podia chegar mais longe que os outros. Era um jogador muito fino, muito bom entre linhas”, começa por dizer ao DN, revelando depois que foi preciso limar algumas arestas. Com 17 anos, já depois de se estrear na equipa princi- pal pela mão de Jorge Burruchaga (antigo médio campeão do mundo em 1986 ao lado de Maradona) e de ter marcado o primeiro golo logo no segundo jogo, Ferreyra foi obrigado a baixar às reservas, equipa treinada por Wensel . “Nessa altura ele precisava de deixar de correr como um louco, tinha de ser mais agressivo e de pressionar mais no ataque. Só melhorando isso poderia ter hipóteses de jogar com o novo treinador, o Juan Falcioni”, recordou, garantindo que “Chucky trabalhou muito e acabou por melhorar bastante”.

“Uma das grandes armas dele é a inteligênc­ia e isso foi fundamenta­l na sua ascensão”, sublinha,Wensel, que nessa equipa de reservas trabalhou também com James Rodríguez (ex-FC Porto) e com Juan Ferreyra, o irmão de Facundo, três anos mais velho, que era guarda-redes.

Quatro meses depois – em março de 2011 – começou então a ser lançado por Falcioni na equipa principal e ainda foi a tempo de marcar seis golos em 16 jogos do Torneio Clausura. Por essa altura, como qualquer jovem, tinha como ídolo Gabriel Batistuta, de quem via todos os vídeos que apanhava na internet.

A fuga por causa da guerra Em julho de 2012, após a segunda época no Banfield, foi contratado pelo Veléz Sarsfield por dois milhões de euros. Era o trampolim que precisava... Após 17 golos em 26 jogos rumou para a Ucrânia para representa­r o Shakhtar, onde sentiu dificuldad­es de adaptação no primeiro ano, tendo apenas marcado três golos em 21 jogos, dos quais apenas sete como titular.

No verão de 2015, a guerra civil no leste da Ucrânia chegou a Donetsk. Ferreyra estava no estágio de pré-temporada com o Shakhtar, em França, e após um jogo particular com o Lyon, recusou-se a regressar à Ucrânia, com medo do conflito armado, que na altura estava no auge. Foi uma autêntica fuga do jogador, acompanhad­o pelos brasileiro­s Ismaily, Alex Teixeira, Dentinho, Fred e Douglas Costa.

Os jogadores desertores acabaram por regressar à Ucrânia, perante as ameaças do presidente do clube Rinat Akhmetov, de ficarem sem jogar, tendo eles obtido a garantia de ficarem longe das zonas perigosas do conflito. Ainda assim, Ferreyra acabou por ser emprestado ao Newcastle, fugindo assim do conflito. Só que em Inglaterra as coisas não correram bem e o melhor que conseguiu foi fazer seis jogos pela equipa de reservas dos magpies.

No verão de 2015, Ferreyra voltou ao Shakhtar, que entretanto já se tinha instalado em Kiev, para as melhores três épocas da sua carreira, durante as quais marcou 53 golos em 93 jogos. Agora, aos 27 anos, chega ao Benfica, onde poderá fazer dupla no ataque com Jonas.

Facundo Ferreyra jogou com o irmão (guarda-redes) e com o ex-portista James Rodríguez na equipa de reservas do Banfield

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Nas últimas três épocas em que represento­u o Shakhtar Donetsk, Ferreyra marcou 53 golos em 93 partidas oficiais

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