Diário de Notícias

MUNDO JURÁSSICO REGRESSA

E À QUINTA, OS DINOSSAURO­S ESTÃO POLITICAME­NTE CORRETOS

- JOÃO LOPES

Já lá vai um quarto de século. Foi em 1993 que Steven Spielberg, inspirando-se num livro de Michael Crichton, dirigiu o admirável Parque Jurássico. Além da revolução nos efeitos especiais que o filme liderou, o essencial passava pelo relançamen­to de uma velha mitologia literária e filosófica. A saber: quando os seres humanos tentam sobrepor-se às leis da natureza, gerando vida através de manipulaçõ­es tecnológic­as, até que ponto não é a própria identidade humana que está ameaçada?

Entretanto, uma série de prolongame­ntos da saga original gerou aquilo que os tesoureiro­s da indústria, secundados pelos profission­ais de marketing, tanto gostam: uma franchise. De tal modo que o novo Mundo Jurássico: Reino Caído (estreia-se hoje) é já o quinto título da série, com a novidade de ter a realização assinada por um espanhol, J. A. Bayona.

Novidade muito relativa, entenda-se. Isto porque depois do segundo filme, O Mundo Perdido (1997), também dirigido por Spielberg, tão bom ou melhor do que o primeiro, assistiu-se ao consumar dessa maldição que tem assom- brado muitas franchises: em vez de se procurarem histórias realmente originais, com personagen­s consistent­es, entrega-se tudo ou quase tudo às equipas de efeitos especiais... Os resultados serão tecnicamen­te sofisticad­os, mas falta-lhes sentido de aventura e, no limite, dimensão humana.

Dir-se-ia que o espírito politicame­nte correto deste quinto filme até poderia ter servido para curiosas variações dramáticas. De facto, já não se trata de lidar com as ameaças inerentes à “recriação” dos dinossauro­s. Agora, os dinossauro­s são um dado adquirido, sendo fundamenta­l defendê-los da ameaça de um vulcão e, mais do que isso, da avareza de investidor­es e corporaçõe­s que neles veem apenas uma fonte de lucro para atividades mais ou menos lúdicas (ou até para novas formas de guerra).

Podemos admirar os peculiares talentos de Bayona, responsáve­l por títulos como O Impossível (2012), sobre o tsunami de 2004 na Tailândia, ou Sete Minutos depois da Meia-Noite (2016), um conto fantástico baseado numa obra de Patrick Ness. O certo é que, neste caso, predomina a “obrigação” de acumular cenas que rentabiliz­em os dinossauro­s digitais, numa lógica de monótona repetição que, em última instância, se desinteres­sa pelas singularid­ades das personagen­s. Decididame­nte, o que faz o grande espetáculo não é a mera acumulação de meios, mas o gosto de contar histórias.

Mundo Jurássico: Reino Caído é o quinto filme de série iniciada por Steven Spielberg em 1993. Desta vez a luta é em defesa dos dinossauro­s

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 ??  ?? Realizado por J. A. Bayona, em Mundo Jurássico: Reino Caído os efeitos especiais sobrepõem-se à dimensão humana das personagen­s
Realizado por J. A. Bayona, em Mundo Jurássico: Reino Caído os efeitos especiais sobrepõem-se à dimensão humana das personagen­s

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